Publicado em 7 julho 2020 | Atualizado em 16 março 2021

A organização do serviço de enfermagem é uma necessidade. No Brasil, essa regulamentação ocorre por meio do SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem). Ela garante que os procedimentos sejam feitos de forma padronizada, seguindo metodologias já testadas anteriormente.

De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), 50% da força de trabalho mundial em saúde ser constituída por enfermeiros, técnicos, auxiliares e obstetrizes. Por isso, a enfermagem é considerada como a espinha dorsal do sistema de saúde. Sem esses profissionais, o sistema de saúde não teria como manter a qualidade nem mesmo como prestar o atendimento à população.

Além disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que faltarão 9 milhões de enfermeiros, enfermeiras e parteiras no mercado para satisfazer as necessidades de saúde da população mundial até 2030. Esse cenário evidencia a importância de valorizar a profissão, além de se criar metodologias de trabalho baseadas em evidências científicas, garantindo padronização nos atendimentos e garantias de boas práticas em saúde, como é possível por meio do SAE.

O que é a SAE?

A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) é uma metodologia desenvolvida a com o objetivo de organizar a prática da enfermagem no atendimento e cuidado do paciente.

A SAE vem ocorrendo desde Florence Nightingale — considerada a precursora da enfermagem — quando, ao participar como voluntária na Guerra da Crimeia com outras 38 mulheres, em 1854, teria conseguido reduzir a mortalidade local de 40% para 2%. Florence sempre defendeu que as enfermeiras deveriam estar submetidas a uma forte organização disciplinar.

A metodologia foi introduzida mundialmente nas décadas de 1920 e 1930, porém o Brasil apenas iniciou a sua implantação na década de 1970. E somente em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) estabeleceu a obrigatoriedade da implementação da sistematização da assistência de enfermagem em toda instituição de saúde, seja pública ou privada. Posteriormente, em 2009, o Cofen estabeleceu uma nova resolução que considera a SAE como método organizacional para a aplicação do Processo de Enfermagem (PE).

O método atualmente é organizado em cinco etapas, que visam a fortalecer o julgamento e a tomada de decisão clínica assistencial do profissional de enfermagem. Com tal atitude, o profissional consegue agir de acordo com a priorização, a delegação, gestão do tempo e contextualização do ambiente cultural do cuidado prestado.

Com a utilização da metodologia SAE, é possível analisar as informações obtidas, definir padrões e resultados das condutas definidas. É necessário ainda que todos os procedimentos e dados devem ser registrados no prontuário do paciente.

Etapas da Sistematização de Assistência de Enfermagem

Em 2009, a Resolução da Confederação Nacional de Enfermagem (Cofen) número 358/2009 revogou a resolução anterior, de número 272/2002. De acordo com essa nova resolução, os procedimentos de sistematização de assistência de enfermagem devem ser realizados, de modo deliberado e sistemático, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem.

Além disso, ele divide o processo de sistematização em cinco etapas:

I – Coleta de Dados de Enfermagem (ou Histórico de Enfermagem)

Processo deliberado, sistemático e contínuo, realizado com o auxílio de métodos e técnicas variadas, que tem por finalidade a obtenção de informações sobre a pessoa, a família ou a coletividade humana e sobre suas respostas em um dado momento do processo de saúde e doença.

II – Diagnóstico de Enfermagem

Processo de interpretação e agrupamento dos dados coletados na primeira etapa, que culmina com a tomada de decisão sobre os conceitos diagnósticos de enfermagem que representam, com mais exatidão, as respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo de saúde e doença, e que constitui a base para a seleção das ações ou intervenções com as quais se objetiva alcançar os resultados esperados

III – Planejamento de Enfermagem

Determinação dos resultados que se esperam alcançar e das ações ou intervenções de enfermagem que serão realizadas face às respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo de saúde e doença, identificadas na etapa de Diagnóstico de Enfermagem.

IV – Implementação

Realização das ações ou intervenções determinadas na etapa de Planejamento de Enfermagem.

V – Avaliação de Enfermagem

Processo deliberado, sistemático e contínuo de verificação de mudanças nas respostas da pessoa, família ou coletividade humana em um dado momento do processo de saúde e doença, para determinar se as ações ou intervenções de enfermagem alcançaram o resultado esperado, e de verificação da necessidade de mudanças ou adaptações.

Mais agilidade com a tecnologia

A sistematização da assistência de enfermagem é um instrumento que faz com que o enfermeiro consiga avaliar os pacientes individualmente e entenda quais tipos de cuidados ele precisa. Essa metodologia garante o gerenciamento do cuidado pela qualidade do atendimento, e ainda a segurança no processo. Isso é possível pois diminui as chances de erros dos profissionais por promover decisões baseadas em evidências científicas.

Com o avanço da tecnologia também na área da saúde, principalmente com a introdução dos prontuários eletrônicos do paciente (PEP), a SAE vem ganhando cada vez mais agilidade. Isso foi possível ao permitir que a organização dos dados possam ser feitas de forma mais rápida e segura.

O uso de PEP requer que protocolos baseados em evidências científicas sejam utilizados. Tal procedimento garante que se façam as condutas mais indicadas para o paciente e também que se registre toda essa assistência de uma forma organizada.

Como ponto positivo, é possível afirmar que o SAE aliado ao prontuário eletrônico permite mais segurança ao paciente, porque avalia e normatiza todas as ações. Além disso, essa automação dos processos da enfermagem auxilia os hospitais nas rotinas de assistência médica.

É necessário lembrar ainda que antes da informatização, o profissional da enfermagem já agregava os dados da rotina em questionários descentralizados. Porém, com o prontuário eletrônico do paciente, a rotina passou a ser documentada e facilmente acessada. Nesse contexto, qualquer questão que seja identificada — seja um risco para o paciente em relação aos cuidados de saúde ou tratamentos — pode ser minimizada, por estar documentada em um PEP, cujas informações são facilmente acessíveis.

Desta maneira, se houver necessidade de avaliação de algum ponto de assistência que possa ser questionado, tendo isso sistematizado no prontuário eletrônico, fica documentado e disponível. Isso permite uma avaliação a qualquer momento, inclusive da auditoria.

Boas práticas em saúde

Outra vantagem da adoção da sistematização da assistência de enfermagem são os cuidados mais individualizados e de qualidade, que garantem boas práticas em saúde. Isso é possível em virtude dos protocolos que devem ser adotados, permitindo que a equipe de enfermagem avalie qual é a rotina adequada para seu ambiente de trabalho.

Com a sistematização da assistência de enfermagem, a rotina estabelecida é direcionada para as necessidades individuais de cada paciente. Ou seja, cada paciente será atendido conforme sua necessidade. Por mais que mais pessoas apresentem a mesma doença, cada atendimento será feito de acordo com o quadro que apresenta.

O SAE ainda permite a geração de indicadores de qualidade da assistência. Isso ocorre a partir dos registros de cuidados, onde os enfermeiros precisam pontuar uma série de indicadores que, consequentemente, ajudarão a melhorar a assistência posteriormente.

Com tais indicadores será possível medir dias de internação, tempo de assistência, condutas de prevenção contra lesões, quantos remédios precisa e quais não usa. Ao final, é possível estabelecer um histórico mais completo do paciente e compreender mais facilmente novas metodologias de atendimento e de procedimentos para cada enfermidade.

Sistematização reduz erros

Erros médicos são apontados como a terceira maior causa de morte nos Estados Unidos, de acordo com estudo do British Medical Journal. Esses óbitos decorrentes de fatores humanos acabam não sendo contabilizados nas estatísticas oficiais. Porém, conforme pesquisadores da Johns Hopkins University School of Medicine, mais de 250 mil mortes por ano são atribuídas a erros.

O número superou os 150 mil óbitos em 2016 por problemas respiratórios, considerado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, como a terceira maior causa de mortalidade.

Tais números refletem uma realidade mundial, e que evidencia a necessidade do uso de metodologias de atendimento também na área da enfermagem. Desta forma, é possível afirmar que a Sistematização da Assistência de Enfermagem é de fundamental importância para reduzir erros e garantir maior qualidade ao atendimento ao paciente.

É importante que a sua implementação seja realizada nos diversos ambientes em que atuam os profissionais de enfermagem. A sistematização contribui para a organização do cuidado aos pacientes, tornando possível a operacionalização do processo de enfermagem.

Mesmo com todas as vantagens, ainda ocorrem dificuldades em relação à implantação da SAE em alguns serviços de saúde. Em geral, tais problemas estão relacionadas a fatores que interferem tanto na aplicação do PE (Processo de Enfermagem) quanto na sistematização da assistência de enfermagem. Esses fatores são, em sua maioria, tanto de origem organizacional (política, normas e objetivos do serviço), como profissionais (atitudes, crenças, valores e habilidades).

Por fim, é preciso afirmar que diante de todas as vantagens que esse processo representa, atualmente sua implantação é considerada um desafio. Isso ocorre tanto para o gerenciamento da assistência quanto para o enfermeiro, pois exige empenho e criatividade para a sua elaboração e execução.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.