Não é de hoje que a tecnologia vem modificando a forma como consumimos e nos relacionamos com um produto ou serviço. Esse processo – mais conhecido como transformação digital – também chegou à área da saúde e hoje, graças a tecnologias como as do Google e da Inteligência Artificial, tem sido possível automatizar e tornar mais precisa etapas como as de análise e diagnóstico de doenças, além da promoção de tratamentos mais assertivos e personalizados para cada paciente.
O que são essas tecnologias?
Antes de nos aprofundarmos nas principais tecnologias, vamos trazer um rápido contexto sobre o que é Inteligência Artificial.
Também conhecida como IA ou AI (sigla do termo em inglês) esse ramo da ciência da computação é responsável por desenvolver dispositivos que simulem a capacidade humana de raciocinar, processar informações e, a partir dos conhecimentos adquiridos, tomar decisões a fim de resolver problemas, que geralmente são de alto nível de complexidade.
O conceito até parece que se trata de uma realidade distante da nossa, mas a verdade é que já convivemos com diversos aparelhos que operam com inteligência artificial.
É o caso, por exemplo, do desbloqueio por reconhecimento facial que aparece hoje na maioria dos smartphones ou ainda de programas de música ou de filmes que realizam sugestões de títulos semelhantes ao que consumimos anteriormente.
Trazendo para realidade da saúde: a inteligência artificial tem sido, cada vez mais, implantada às soluções de tecnologias voltadas para áreas de armazenamento de dados (data center), diagnóstico e tratamento de doenças.
Essa realidade, infelizmente, ainda não é acessível a todos os brasileiros. A falta de tecnologia, inclusive, foi um dos pontos mais levantados em uma pesquisa da Future Health Index, que avaliou a qualidade da saúde nos países considerando três indicadores no sistema de saúde: acesso, satisfação e eficiência.
Em um deles, a pesquisa questionou os participantes sobre a geração de valor que o serviço de saúde do País oferecia aos pacientes. O Brasil registrou cerca de ficou em 26,71%, muito abaixo da média de 43,48% do levantamento.
Diante de tudo o que falamos, talvez você esteja se perguntando: o que o Google tem a ver com tudo isso?
O Google Health
Lançado inicialmente em 2008, o Google Health foi um serviço criado com objetivo de auxiliar as pessoas a gerenciar e armazenar suas informações médicas em um só lugar. A ferramenta ainda permitia que médicos pudessem consultar, de forma rápida, aos registros e histórico daquele paciente. Quatro anos depois, o Google encerrou as atividades do serviço por falta de procura.
Nesse meio tempo, a empresa continuou investimento em soluções tecnológicas para área da saúde. Chegou, inclusive, a criar dispositivos que, na época, foram vistos um tanto quanto futuristas, como lentes de contato para medir glicosímetros. E, principalmente, passou a contratar uma equipe médica formada por líderes da área, principalmente nos Estados Unidos.
Algumas das soluções do Google Health
Apesar de ainda estar em expansão, o Google Health já lançou, nos últimos anos, algumas soluções que se destacaram por revolucionar a área da saúde. Listamos algumas delas logo abaixo:
1. Google Cloud Platform e o processamento de dados
O Google Cloud Platform, ou GCP, é o sistema de infraestrutura desenvolvida pela empresa para oferecer uma solução que acelera a gestão, o armazenamento e a integração dos principais tipos de dados de saúde. Na área da saúde, essa função fica por conta da API Cloud Healthtech desenvolvida pela empresa.
Atualmente, o Google disponibiliza uma versão gratuita por 12 meses pelo valor de US$ 300 (aproximadamente R$ 1260) em créditos para usuário utilizar qualquer serviço do GCP.
Um exemplo recente da aplicação do Google e da inteligência artificial para processamento de dados foi o anúncio da parceria da gigante norte-americana com a empresa de tecnologia DeepMind Health para desenvolvimento e aperfeiçoamento do Streams. Basicamente, trata-se de um assistente virtual para enfermeiros e médicos que, operando com inteligência artificial, permite detectar sintomas com antecedência, agilizando o diagnóstico.
2. Aparelho para diagnóstico de doenças na pele
Em setembro, os cientistas do Google anunciaram ter desenvolvido um sistema de aprendizado profundo (DLS) capaz de identificar 26 doenças de pele a partir do processamento de imagens e do cruzamento de informações, como histórico médico, idade, sexo e sintomas apresentados pelo paciente.
No comunicado sobre o lançamento da tecnologia, a empresa explicou que a solução foi desenvolvida para analisar as condições de doenças mais comuns durante um atendimento primário e saúde e, assim, auxiliar clínicos gerais com menos experiências nesse tipo de diagnóstico.
O sistema foi desenvolvido tendo como base 17.777 casos de diversas clínicas de atenção primária em dois estados americanos. Além disso, a solução foi apresentada a mais de 50 mil diagnósticos fornecidos por 40 dermatologistas para ir “aprendendo” e criando padrões de reconhecimento das doenças.
3. Detecção de diabetes pela retina
Outra solução de inteligência artificial que o Google desenvolveu foi a de escanear a retina humana e, a partir dela, identificar indícios de retinopatia diabética, quando o grau de diabetes é tão elevado que pode causar cegueira.
Em seu site oficial, a empresa explica que o sistema mapeou uma base de dados com mais de 128 mil imagens e, com apoio de 3 a 7 oftalmologistas, “aprendeu” a reconhecer indícios da doença. A ideia é que a solução auxilie no trabalho dos médicos em promover um diagnóstico rápido e eficaz.
Qual cenário dessas tecnologias no Brasil?
O País ainda está nos primeiros passos para implantação de muitas das tecnologias relacionadas à inteligência artificial, não apenas pela falta de recursos da maior parte das instituições de saúde de absorverem essa infraestrutura tecnológica, mas também por todo reajuste para se adequar às exigências da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) que entra em vigor em agosto do ano que vem.
Afinal de contas, a gestão de dados se tornará um assunto sensível para as empresas, que precisarão tornar a relação mais transparente para os pacientes.
Ainda assim, a expectativa é bastante positiva, principalmente se considerarmos que o foco sempre deve estar no paciente e em sua experiência. Essas tecnologias virão, justamente, para trazer melhores resultados tanto na qualidade de vida do paciente quanto na personalização do atendimento, contribuindo para uma maior humanizando a relação médico-paciente.
Mesmo sem uma previsão clara de quando as soluções de healthtechs estarão em todas as unidades de saúde do país, a melhor orientação é que todos os envolvidos no cuidado ao paciente – desde diretor de uma instituição de saúde à equipe de assistência médica – se mantenham atualizados sobre essas tecnologias.