Publicado em 30 janeiro 2020 | Atualizado em 19 julho 2021

Um assunto que muito tem se discutido é o da interoperabilidade no setor saúde. Afinal, cada vez mais hospitais, clínicas e operadoras da saúde reconhecem a importância e buscam modernizar sua infraestrutura com o objetivo de promover um atendimento mais personalizado ao paciente.

A interoperabilidade, significa a padronização de dados dentro das instituições com intuito de tornar informações dos pacientes e daquela unidade de saúde mais fáceis de serem compreendidos e acessados a partir de qualquer unidade de saúde, seja ela pública ou privada.

O que é interoperabilidade?

Apesar de o conceito estar, aos poucos, tornando-se bastante atrelado à área da saúde, a interoperabilidade nasceu da tecnologia da informação e diz respeito à capacidade de dois sistemas se comunicarem entre si de forma rápida e transparente.

Na prática, isso significaria que hospitais e demais unidades de saúde poderiam acessar informações, de maneira remota, podendo inclusive fazer um trabalho simultâneo.

Por exemplo, se um paciente, por algum motivo, precisar ser transferido de uma unidade de saúde do interior para capital, o primeiro hospital poderia encaminhar todo o histórico de atendimento dele para a unidade de saúde que fosse assumir o caso, otimizando o tempo de levantamento dos dados e, ainda, possibilitando à equipe médica o acesso aos dados completos do paciente, algo bastante difícil hoje em dia.

Essa possibilidade, ainda mais em casos de urgência ou de tratamentos de longo prazo, representa uma verdadeira revolução na gestão e utilização inteligente de sistemas de informação dentro da saúde.

Os tipos de interoperabilidade

A mecânica de interoperabilidade pode ser aplicada de diversos tipos, que podem ser assim classificados:

  • Sintática: quando se é padronizada a codificação dos dados para desenvolver e integrar os sistemas e demais indicadores;
  • Semântica: quando a padronização é feita a partir da descrição das informações para agilizar e melhor automatizar as trocas entre sistemas;
  • Técnica: quando o padrão se dá pela evolução da comunicação e informação, assim como o compartilhamento das mesmas entre os sistemas;
  • Pragmática: trata-se da reorganização da empresa em termos de processos, objetivos, padronização das funcionalidades e o entendimento de todos quanto aos princípios e objetivos dentro da organização.

Além dessas categorias, existem outras modalidades de interoperabilidade, como as de natureza legal (referente às exigências e implicações do compartilhamento de dados) e intercomunitária (entre sociedades).

E a interoperabilidade na saúde?

Como adiantamos acima, a interoperabilidade na saúde viria para solucionar a padronização e o rápido compartilhamento de informações . Seja entre hospitais, clínicas ou operadoras de saúde.

No entanto, uma condição fundamental para que isso seja possível está na criação e implantação de protocolos que padronizem a representação dos histórico de pacientes, exames e laudos de modo a tornar a assimilação desses documentos mais rápida e fácil no momento em que for repassada de um sistema para outro.

A discussão acerca da interoperabilidade na saúde é tão contemporânea na área que foi tema, inclusive, durante o último Conahp (Congresso Nacional de Hospitais Privados), que aconteceu, no final de novembro, em São Paulo.

Na ocasião, o Dr. George Matthew, diretor médico da DXC Technology – empresa especializada na gestão de dados para o setor -, levantou o principal desafio para a interoperabilidade na saúde acontecer: “O obstáculo para isso (interoperabilidade) é que temos que forçar um nível de transparência que os hospitais não estão acostumados. A forma paternalista com a qual o paciente é tratado não tem mais espaço no mundo, esse paciente tem acesso a informações que antes não tinha, sendo assim, ele tem escolhas. A ideia é criar uma relação de parceria, não de dependência.”

Somado a isso, temos mais uma questão no cenário brasileiro que é a conformidade das empresas, inclusive as de saúde, com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que não só pressupõe maior transparência dos dados, como também coloca o paciente no centro do controle de suas informações.

Por isso que, mais do que nunca, as empresas precisarão criar uma relação de transparência e de confiança para que tudo isso possa, de fato, ser implementado.

Benefícios da interoperabilidade para gestão de saúde

Entre os principais benefícios que essa interligação de sistemas pode trazer às empresas, principalmente as da área da saúde, são:

  • Permite o rápido compartilhamento e estudo do histórico do paciente entre profissionais da equipe médica. O paciente, por sua vez, tem acesso ao seu laudo de forma integrada e transparente, tendo conhecimento de todo seu histórico até ali.
  • Reduz custos e possibilita o atendimento mais humanizado para o paciente, uma vez que a equipe já tem noção do caso a ser tratado e, com isso, diminui gastos com exames e ou atendimentos realizados anteriormente. Para o paciente, ele sente que seu tratamento se torna mais próximo e personalizado, uma vez que já sabem de seu histórico.
  • Melhora o gerenciamento de informações internas e externas, tornando toda a cadeia de saúde mais eficiente.

Alguns protocolos de interoperabilidade na saúde

O primeiro ponto que precisamos ter em mente é que já existe, na área da saúde, um padrão nacional destinado a otimizar algumas tarefas administrativas. Inclusive documentações e demais informações a serem compartilhadas. São as chamadas Troca de Informação em Saúde Suplementar (TISS) e Terminologia Unificada da Saúde Suplementar (TUSS).

Ambas funcionam considerando alguns critérios, entre eles está justamente a interoperabilidade na saúde. Vamos conhecer outros:

HL7 (Fast Healthcare Interoperability Resources)

A HL7 trata de um conjunto de normas que tem por objetivo padronizar a transmissão de mensagens entre equipamentos médicos, bases de dados médicos e sistemas administrativos. Dentro disso, tem ainda o HL7 FHIR, que é o protocolo mais avançado e que se utiliza de APIs e demais terminologias aceitas internacionalmente.

PIX (Patient Identifier Cross-referencing)

É o protocolo que estabelece uma correlação de informações de diferentes naturezas, mas que dizem respeito ao mesmo paciente. Ou seja, é a convergência de todas as informações daquele paciente em um só lugar para que facilite a consulta de seu história pelas equipes médicas.

DICOM (Digital Imaging and Communications in Medicine)

Trata-se do padrão aceito internacionalmente para os casos de elaboração e documentação de imagens médicas.

CID-10

Terminologia usada para definir a chamada Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Que é, portanto, o protocolo que auxilia a classificar de sintomas, doenças e morbidade. Na prática, ele se torna fundamental na agilização do diagnóstico e tratamento de pacientes.

SNOMED CT (Systematized Nomenclature of Medicine Clinical Terms)

É sigla mais abrangente no mundo, que é multilíngue e que atua como a representação de registros de forma eletrônica.

Desafios de implantar a interoperabilidade no setor de saúde no Brasil

Ainda durante a Conahp, um dos principais congressos do setor, o Dr. George Matthew – convidado internacional do evento – listou dois grandes desafios na implementação da interoperabilidade na saúde: “Neste processo existem duas etapas importantes. A primeira é criar um padrão para esses dados, levando uma série de aspectos em consideração como segurança, operabilidade e acesso. Logo depois, o passo é criar engajamento entre médico, administradoras e paciente, para que todos saibam o que fazer com esses dados.”

No caso do Brasil, estamos ainda alguns passos atrás. Nós temos hoje o Datasus, que é o principal sistema de informatização e organização de dados do setor no País na iniciativa pública (SUS). Porém, o grau de maturidade para interoperabilidade ainda é baixo, principalmente porque nem todas as unidades de saúde são informatizadas ou realizam o correto cadastramento de dados.

De acordo com o Jacson Barros, diretor do Datasus, que também palestrou na Conahp, eles estão começando a informatizar as unidades de saúde pelo país. Por ora, com as informações que eles já têm padronizadas: vacinação, distribuição de medicamentos, atendimento assistenciais, sumários de alta hospitalar e exames realizados.

Outro ponto importante – e isso não seria exclusividade do Brasil – é o de enxugar a quantidade de protocolos existentes para padronização. Esse excesso dificulta para que as unidades de saúde saibam identificar quais protocolos são fundamentais e quais podem ser dispensados, por exemplo.

Por isso que o momento atual é o de alinhamento entre profissionais de saúde, provedores, instituições e gestores. Para a gradativa implantação desses protocolos e sistemas padronizados. Ainda que não haja uma previsão clara de quando teremos isso, em escala nacional, as empresas que puderem investir nessa modernização, ainda que de forma gradual.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.