A vacina da COVID-19 já é uma realidade em algumas partes do mundo. Num tempo recorde para pesquisa, análise e desenvolvimento, pelo menos seis laboratórios já apresentam substâncias consideradas eficazes. Contudo, a logística de distribuição se mostra como o próximo grande desafio a ser enfrentado no combate ao coronavírus.
Mesmo em países que já iniciaram a vacinação, como Inglaterra e Rússia, a logística preocupa os governantes. Afinal, em nações populosas e de grande extensão, como é o caso do Brasil, todo o processo de armazenamento, transporte e distribuição é bastante complexo.
Principalmente quando se trata do planejamento da cadeia do frio, que envolve o constante monitoramento de temperatura dos insumos. Nesse sentido, a escolha de qual vacina para COVID-19 melhor se adapta à logística do país acaba influenciando o processo de compra do imunizante.
Atualmente, as vacinas em estágio mais avançado de desenvolvimento e que já se encontram na fase de negociação com governos e pré-distribuição são as seguintes:
- Pfizer/BioNTech;
- CoronaVac (Sinovac Biontech);
- Moderna;
- Johnson&Johnson;
- Oxford/AstraZeneca;
- Sputnik V (Instituto Gamaleya/Rússia).
A vacina produzida pela americana Pfizer em parceria com o laboratório alemão BioNTech já teve seu uso aprovado em lugares como Reino Unido, Canadá e Bahrein. Os britânicos foram os primeiros a receberem a dose inicial, com a vacinação iniciada no dia 8 de dezembro de 2020.
Todavia, mesmo em países mais desenvolvidos, existe a preocupação de que a imunização em massa ocorra de maneira rápida e eficiente. Porém, para isso seja possível, governantes e organizações devem trabalhar para desenvolver um plano adequado, diante da complexidade desse processo.
Além da vacina, existem ainda os insumos para aplicação, que dependem de uma produção em larga escala – são centenas de milhões de seringas e agulhas, entre outros materiais.
Desafios da logística de distribuição para a vacina da COVID-19
Diante da necessidade urgente de pôr um fim à pandemia da COVID-19, a demanda das vacinas é altíssima. Sobretudo porque o vírus atingiu um nível de contágio alarmante, colocando em risco a vida de milhões de pessoas.
Desse modo, pensar a forma de distribuir e administrar uma vacina é fundamental. Mas também desafiadora. O impacto econômico, social e de saúde que já vem sendo sentido há quase dez meses só será revertido, inicialmente, a partir da vacinação em massa.
Portanto, a logística necessária para as cadeias de abastecimento da vacina são o foco da atenção de governos, empresas e organizações internacionais. Todos preocupados em atender a população da maneira mais rápida e eficiente possível.
Contudo, traçar um plano de vacinação é algo extremamente complexo. Ainda mais quando se trata de uma perspectiva global. E nos países de dimensão continental como Brasil, Austrália e Estados Unidos, por exemplo, organizar essa logística se torna ainda mais desafiador.
Limitações da Rede de Frio brasileira
Toda a problemática gira em torno da conservação da vacina. No Brasil, a Rede de Frio prevista no Plano Nacional de Imunização (PNI) estabelece os requisitos para conservação de vacinas com temperatura entre 2ºC e 8ºC. Nesse sentido, quaisquer imunizantes que não se enquadrem nesse parâmetro tornam o processo ainda mais dificultoso.
Dessa forma, seria necessário readequar todas as geladeiras presentes nas unidades de saúde responsáveis por aplicar a vacina. Além disso, o armazenamento durante o transporte também seria prejudicado, necessitando adequação.
Esse foi um dos motivos para que o governo brasileiro não se interessasse de imediato pela vacina da farmacêutica Pfizer. Isso porque o imunizante exige armazenamento com temperaturas de -70ºC.
Porém, a empresa já declarou que este não seria um impeditivo, pois está desenvolvendo recipientes que mantêm a temperatura adequada no transporte.
Em nota publicada na imprensa, a companhia afirma possuir um plano de logística detalhado, com capacidade para monitorar continuamente a temperatura da vacina contra a Covid-19. Além de apoiar o transporte e o armazenamento de maneira eficaz.
Obstáculos logísticos nos EUA
Assim como o Brasil, os Estados Unidos também enfrentam desafios na logística da vacina para COVID-19. Isso porque o processo envolve uma cadeia de suprimentos igualmente complexa, com gargalos potenciais.
Além disso, por ser um país de dimensões extensas e bastante populoso, requer o cuidado com armazenamento e transporte de milhões de doses do imunizante. Doses estas que, dependendo da vacina aprovada, serão aplicadas em duas etapas.
Por isso, os obstáculos que o governo americano enfrenta são diversos. Neste cenário, as principais questões envolvidas são:
- a administração presidencial, que além de ignorar a ciência em certos momentos, passa por uma fase de transição;
- um número elevado de agências e autoridades de nível local e estadual, espalhadas por 50 estados e mais 14 territórios norte-americanos;
- algumas empresas farmacêuticas com operações de fabricação no exterior;
- o próprio sistema de saúde dos EUA, que inclui estabelecimentos públicos e privados, todos sob enorme pressão causada pela pandemia e por uma segunda onda de casos de COVID-19;
- fabricação e fornecimento de insumos e equipamentos necessários para administração da vacina;
- escassez global de suprimentos para produção e armazenamento, além de concorrência estrangeira e local pelas próprias vacinas;
- o envolvimento dos provedores de seguros de saúde;
- busca por empresas que forneçam locais para aplicação da vacina, como farmácias e até mesmo supermercados;
- negociação com empresas de transporte e logística (UPS e FedEx), além de companhias aéreas que auxiliem a distribuição.
Embora os Estados Unidos sejam um país mais desenvolvido e à frente da maioria, alguns aspectos dificultam a logística da vacina. Como é o caso da participação ativa do setor privado, que não inclui uma unificação de locais de vacinação, nem de transporte. Diferente do Brasil, que possui empresas públicas e estatais à serviço da população.
Requisitos mínimos para uma distribuição eficiente
Existe uma série de regulamentos internacionais para a cadeia do frio. Órgãos como FDA, EMA, OPAS, e a própria OMS, estabelecem os requisitos mínimos para uma logística eficiente de produtos termolábeis. Entre eles, obviamente, estão as vacinas, que exigem monitoramento e armazenamento adequados.
Desse modo, o sucesso na distribuição da vacina da COVID-19 está diretamente ligado ao cumprimento desses requisitos. Entretanto, diferente do que ocorre normalmente dentro de um plano de imunização estabelecido, o maior desafio é a larga escala. Sem contar que o tempo também é um fator que vai de encontro com a eficiência.
Vejamos, então, quais os principais requisitos para um plano de logística eficiente, que leve a vacina para o máximo de pessoas:
Temperatura adequada
As vacinas necessitam de locais onde a temperatura seja mantida dentro dos parâmetros estabelecidos pelo fabricante, preservando sua estabilidade. As caixas de transporte e os armazéns necessitam de monitoramento e controle permanentes.
Seja por via terrestre ou aérea, é imprescindível que a vacina seja mantida em condições adequadas, sob risco de perder sua eficácia.
Grandes locais de armazenamento
Cada vacina possui uma embalagem definida pelo fabricante. Contudo, se estimarmos um padrão de embalagem e distribuição clássico, pode-se prever o volume necessário de espaço para o imunizante contra COVID-19.
Esse dado é importante para saber o número de container refrigerados que serão utilizados, assim como o espaço a ser disponibilizado para estoque nos armazéns. Além disso, esses locais devem atender aos requisitos da legislação para garantir a qualidade e segurança do produto.
Isso tudo visa garantir que a vacina chegue até o momento da aplicação mantendo a eficácia e potência necessárias para proteger contra o vírus.
Centrais de distribuição
Para uma logística mais eficiente, é fundamental que as vacinas sejam distribuídas em centrais regionais. Desse modo, a distribuição local é facilitada, assim como o armazenamento e o transporte para áreas mais distantes.
Plano de vacinação da COVID-19 no Brasil e no mundo
Ainda que preliminarmente e com poucas confirmações, o Brasil apresentou um plano de vacinação que prevê quatro etapas. A distribuição, de acordo com o comunicado do Ministério da Saúde, acompanhará essas fases. Nelas, diferentes grupos da população serão priorizados. São eles:
Fase 1: trabalhadores da área de saúde, população idosa a partir dos 75 anos de idade, pessoas acima de 60 anos que vivem em instituições de longa permanência e população indígena.
Fase 2: pessoas com idade entre 60 a 74 anos.
Fase 3: pessoas com comorbidades, que apresentam maior chance de agravamento da doença. Isso inclui portadores de doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas, entre outras).
Fase 4: a última fase da vacinação inclui professores, servidores da segurança pública e funcionários do sistema prisional.
No entanto, o início da aplicação da vacina contra COVID-19 ainda é uma incógnita. Tudo dependerá de qual imunizante terá a aprovação da Anvisa. Ainda que em caráter emergencial, somente a partir dessa autorização é que se poderá prever de maneira mais objetiva quando começará a vacinação no Brasil.
Os demais países mantêm a mesma premissa de vacinar primeiro os idosos e os profissionais da saúde. Em todo o mundo, os planos de vacinação preveem várias fases e duas etapas. Isso porque as vacinas apresentadas até agora exigem que sejam utilizadas duas doses para alcançar a proteção necessária contra o coronavírus.
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