Publicado em 7 abril 2020 | Atualizado em 24 junho 2020

Com o surgimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, estabeleceu-se uma data para que, anualmente, temas relacionados à saúde e ao bem-estar da população global fossem discutidos. Assim, o Dia Mundial da Saúde, comemorado em 7 de abril, desde 1950 levanta questões pertinentes e sobre cuidados, políticas públicas e problemas enfrentados no sistema de saúde em todo o mundo.

Afinal, sete décadas após a criação da OMS, mais da metade da população mundial não possui acesso a serviços de saúde adequados. Mesmo com a evolução das políticas públicas e dos importantes avanços na medicina.

Saúde mundial em números

Conforme dados divulgados em 2018 pela própria OMS, somente 45% da população mundial tem acesso a serviços médicos mais adequados. A região africana ainda é a que mais sofre, com 33 países contando com serviços que atendem menos da metade de seus habitantes.

Ao todo, são 76 países com menos de um médico para cada mil pessoas. E menos de três enfermeiras para cada mil em 87 países ao redor do mundo. O número recomendado pela OMS é de um médico para cada mil habitantes.

Apesar de que no Brasil a situação parece ser um pouco menos drástica, com números de 2015 apontando 77% da população com acesso aos serviços de saúde. E com o número de médicos para cada mil habitantes ser de 2,11 (acima do que é recomendado pela OMS). A maior concentração de pessoas nos grandes centros e má distribuição de renda afetam significativamente a qualidade dos serviços de saúde no país.

E, assim como em outros países, a falta de investimentos por parte do governo brasileiro – o país está abaixo da média mundial que é de 9,9%, com apenas 7,7% do orçamento para investimentos na área – faz com o Sistema Único de Saúde (SUS), que é o maior sistema universal, público e gratuito do mundo, ainda esteja aquém das necessidades.

No entanto, a Organização Mundial da Saúde ressalta que a falta de prioridade na formulação de políticas públicas e investimentos para o setor de saúde em todo o mundo é traduzida em mortes, em todas as faixas etárias.

Um exemplo é mortalidade infantil. Que apesar de ter sido minimizada, ainda resulta em cerca de 15 mil mortes diárias de crianças com até 5 anos por falta de atendimento médico. Ou mesmo por não ter acesso a saneamento básico.

Problemas frequentes

Isso sem contar uma vastidão de outros problemas, como diabetes, obesidade, cardiopatias, e até doenças como a hanseníase, que colocam o Brasil em segundo lugar no ranking mundial em número de casos (ficando atrás apenas da Índia), com aproximadamente 30 mil novos registros por ano durante a última década.

Portanto, são questões relevantes como essas que já foram ou ainda serão tratadas no Dia Mundial da Saúde, para levar informação e promover o debate e a conscientização de líderes mundiais, profissionais e população sobre problemas a serem enfrentados e quais soluções precisam ser tomadas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Como surgiu o Dia Mundial da Saúde

Pensada e instituída com o objetivo de conscientizar sobre um tema específico, a data passou a vigorar em 1950. Dois anos após a primeira Assembleia de Saúde realizada em 1948, quando foi criada a OMS.

Assim, nos últimos 70 anos, o Dia Mundial da Saúde trouxe à tona questões de grande relevância em saúde. Destacando uma área ou assunto prioritário para a entidade e que merecia atenção de todo o mundo.

Desde mudanças climáticas até assuntos relacionados à saúde mental, a cada ano, a celebração conta com atividades que vão além do dia específico. E se entendem por até uma semana, servindo de vitrine para atrair a atenção mundial e dando oportunidade para tratar de aspectos importantes da saúde global.

Temas abordados nos últimos cinco anos

A cada ano, o Dia Mundial da Saúde é celebrado com a abordagem de um tema, de onde partem diversas ações. Vejamos alguns exemplos do que foi tratado pela OMS nos últimos anos:

  • 2015 – Segurança alimentar: Naquele ano o tema tratou de questões relacionadas ao consumo de alimentos dentro dos padrões corretos de conservação. Ao acesso à alimentação adequada em termos de nutrição e segurança. E também das questões relacionadas às doenças que podem decorrer do consumo de alguns alimentos.
  • 2016 – Combate ao Diabetes: A OMS trouxe à tona todas as questões e problemas relacionados ao Diabetes. Para que profissionais de saúde, governantes e população trabalhassem no enfrentamento da doença.
  • 2017 – Depressão: A campanha daquele ano tinha como objetivo acabar com o estigma das doenças mentais. Incentivando o público a falar sobre depressão. E também promover a conscientização e o apoio de familiares e amigos às pessoas que sofrem com a doença.
  • 2018/2019 – Cobertura Universal de Saúde: “Saúde para todas e todos, em todos os lugares” foi o lema das últimas campanhas. Chamando atenção para a importância da saúde universal através da garantia de acesso de todas as pessoas aos serviços, sem distinções de gênero, raça ou classe social.

Dia Mundial da Saúde 2020 e o destaque à enfermagem e obstetrícia

Em 2020 se celebra o Ano Internacional da Enfermeira e da Parteira. E por isso o Dia Mundial da Saúde deste ano terá como tema o papel desempenhado por profissionais de enfermagem e de obstetrícia. Que é imprescindível à prestação de cuidados com a saúde.

Como se sabe, enfermeiras e parteiras – mulheres são a grande maioria nessa área, com número superior a 80% – se dedicam aos cuidados de mães e filhos. Na obstetrícia, zelando pelo nascimento, e na enfermagem, cuidando para o desenvolvimento através da imunização, orientação em saúde e atendimentos essenciais. Essas duas profissões juntas representam quase 50% da força de trabalho global em saúde.

A enfermagem é uma das profissões que mais assume a responsabilidade pelo cuidado contínuo dos pacientes em todos os estágios de tratamento. Além de auxiliar no desenvolvimento das políticas de saúde e auxiliar diretamente os médicos no exercício da profissão.

Geralmente, enfermeiras são o primeiro ou até mesmo único ponto de apoio e atendimento nas comunidades. Segundo a OMS, em todo o mundo serão necessários mais de 9 milhões de profissionais da enfermagem e da obstetrícia para que se alcance a cobertura universal de saúde proposta pela entidade até 2030.

Relatório de Enfermagem do Estado do Mundo

Entre as atividades e eventos programados para a data está o lançamento do primeiro Relatório de Enfermagem do Estado do Mundo. Que trará um panorama global da força de trabalho de enfermagem. E será um apoio ao planejamento baseado em evidências para otimizar as contribuições desses profissionais para a melhoria da saúde e do bem-estar de toda a população mundial.

Sobre a obstetrícia, um relatório semelhante será lançado em 2021. Trazendo também os aspectos relacionados às políticas, pesquisa e investimento nessa força de trabalho para as próximas gerações.

Além da publicação do relatório, o Dia Mundial da Saúde 2020 propõe algumas metas sobre o tema:

  • promover uma onda de reconhecimento público da importância do trabalho de enfermeiras e parteiras pelo papel que desempenham nos serviços de saúde;
  • ampliar o perfil dos profissionais de obstetrícia e enfermagem na força de trabalho em saúde;
  • incentivar o apoio e o investimento em enfermeiras e parteiras.

O papel dos profissionais da enfermagem na pandemia do Coronavírus

Em todo o mundo estamos enfrentando um momento delicado num cenário bastante complexo em torno da pandemia do Coronavírus. Diariamente, além do aumento exponencial dos casos de contaminação, centenas de mortes são registradas.

Na linha de frente nos cuidados de quem apresenta sintomas de Covid-19 estão os profissionais da saúde. Na sua maioria enfermeiras e enfermeiros que atuam no atendimento primário da população e no auxílio às prescrições médicas.

Sem essa força de trabalho, seria impossível enfrentar uma pandemia dessa proporção. Atualmente, o Brasil conta com cerca de 2,3 milhões de profissionais de enfermagem, entre enfermeiras, técnicos e auxiliares.

E são eles que tem atuado em extensas – e intensas – escalas de trabalho durante pandemia, que já registrou até o momento mais de 2 mil casos da doença, com algumas dezenas de mortes.

Isso sem contar o transtorno causado em suas vidas pessoais, com a preocupação de contágio aos familiares, que muitas vezes provoca o afastamento dos filhos, pais, e de seus próprios lares.

Ao enfrentar uma pandemia, como ocorre neste momento, fica ainda mais claro o quão indispensável é o papel da enfermagem, e também da obstetrícia que continua trabalhando para trazer vidas ao mundo dentro de um cenário crítico.

Por que as políticas de promoção da saúde são importantes?

Ocasiões como o Dia Mundial da Saúde não servem apenas para tratar de assuntos básicos e ensinar pequenas ações do dia a dia. Essa é uma data para chamar a atenção dos governos e organizações para a importância da promoção dos hábitos de vida saudáveis que melhoram a expectativa de vida, através da criação de políticas públicas.

Dessa forma, ao olhar para os problemas e conhecer as questões que os envolvem, é possível compreender que o aumento dos investimentos – ao invés de cortes no repasse de verbas, como ocorre muitas vezes – é fundamental para promover o acesso universal à saúde, que requer ampliação das contratações de profissionais do setor, além de trabalhar para diminuir a superlotação nos hospitais.

Com um sistema de saúde adequado e controlado, não há espaço para perdas. Mas para isso, é indispensável a participação de governantes que estejam dispostos a zelar pelas vidas humanas, e também de entidades e organizações que atuem como porta-voz da população para que sua realidade seja conhecida e suas necessidades sejam atendidas.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.