Publicado em 8 março 2020 | Atualizado em 24 março 2020

A presença das mulheres no setor de saúde é majoritária em diversas ocupações, mas ainda têm sua participação limitada às atividades de nível médio e elementar, principalmente relacionadas com a enfermagem, onde são maioria entre os profissionais que trabalham nas linhas de frente em todo o mundo.

No entanto, quando se fala em cargos de gestão ou áreas de pesquisa e desenvolvimento dentro do mercado de saúde, a presença das mulheres ainda é coadjuvante quando comparada ao número de homens que ocupam posição de destaque.

E como sabemos, entre os profissionais de saúde da comunidade, que são responsáveis pelo fornecimento do atendimento primário às populações mais carentes, há um predomínio quase que total do sexo feminino.

Contudo, mesmo predominando em números totais, as mulheres no setor de saúde ainda permanecem sub-representadas nas ocupações mais qualificadas, incluindo especialidades médicas como cirurgia, por exemplo.

Ocupação das mulheres no setor de saúde

Conforme divulgado num artigo do IntraHealth International de 2017, numa amostra de 123 países, as mulheres no setor de saúde e social representavam 67% das vagas ocupadas. Nos EUA, elas são 80% da força de trabalho na saúde e 90% dos profissionais de enfermagem registrados, porém ocupam somente 40% dos cargos executivos.

Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – da qual o Brasil, apesar de ainda não ser um membro oficial, é parceiro-chave nas relações cooperativas – a média de mulheres corresponde a pouco menos da metade de todos os médicos, porém, há uma variação bastante grande.

Nos países asiáticos como Coréia e Japão, elas são apenas 20% do total de médicos, enquanto na Estônia e Letônia representam cerca de 70% dos profissionais de medicina.

Os números também indicam que, entre os países da OCDE, a quantidade de médicas vem aumentando nos últimos quinze anos, com uma proporção que era de 29% em 1990 e passou a 46% em 2015.

A previsão, claro, é que esta seja uma tendência crescente, à medida que aumenta a participação das mulheres em todos os setores mais avançados da saúde, em especial na área médica.

Barreiras a vencer

As mulheres no setor de saúde, apesar de serem maioria absoluta em diversas ocupações, ainda enfrentam obstáculos e precisam rompem barreiras para alcançar postos de trabalho mais elevados e considerados mais complexos.

Mas seria essa apenas uma mera escolha de cada profissional, que opta por profissões de base e atendimento primário e que, por consequência, possuem menor prestígio e baixa remuneração – embora sejam igualmente importantes e merecedoras de todo crédito e louvor pela importância do trabalho que desenvolvem?

E por que entre as médicas, a maior parte escolhe especialidades como ginecologia, pediatria, clínica geral, que são áreas médicas tidas como de menor complexidade, ainda que extremamente valiosas e fundamentalmente necessárias?

É fato que há aqui uma construção social que secundariza a participação da mulher no trabalho e na economia. Além de um imposição de “sentimento maternal”, que faz crer que a prática do cuidado é mais natural ao sexo feminino do que ao masculino.

Ousar “sair da caixa” e criar as próprias condições e meios que levem ao estudo e, posteriormente, ao trabalho em ocupações onde os homens são majoritariamente representados e mais bem-vistos é o grande desafio das profissionais mulheres, seja no setor de saúde ou em qualquer outro mercado que fuja ao padrão do “cuidar e servir”.

Representação: quem são os destaques femininos na saúde?

Mesmo diante dos inúmeros desafios que se desenham às mulheres, várias profissionais alcançam um lugar significativo no setor de saúde, atuando em diversas frentes e mostrando sua capacidade técnica e intelectual.

Seja na gestão de importantes instituições, quanto no desenvolvimento de soluções e tratamentos, ou mesmo em pesquisas científicas relacionadas a novas epidemias, ainda que em menor número, lá estão elas, rompendo padrões e desafiando as estatísticas.

Como exemplo, podemos citar Denise Soares dos Santos, CEO da Beneficência Portuguesa paulista, que em 2018 recebeu o Prêmio Executivo de Valor, na categoria Saúde. Ela, que foi a primeira mulher a comandar uma rede de hospitais no Brasil, em 2008, é conhecida por sua característica de gestão inovadora, com foco em liderança e amplamente voltada às pessoas.

Em meados de 2019, Denise recebeu outro prêmio: o Lide Saúde e Bem-Estar 2019, devido à sua contribuição ao setor de saúde brasileiro.

Além de Denise Santos, outros nomes como Karine Almeida e Vivien Navarro também se destacam dentro da gestão de importantes redes de hospitais no Brasil.

Embora algumas delas não possuam formação específica em áreas relacionadas à medicina, por exemplo, suas experiências na gestão de outras empresas e instituições lhes garante eficiência e uma base sólida o bastante para enfrentar os desafios da carreira que as mulheres no setor de saúde enfrentam em qualquer esfera.

Em contrapartida, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), as mulheres conseguem ocupar maior espaço até mesmo nos cargos de liderança.

É o que mostra um questionário elaborado pelo pesquisador André Bonifácio, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que foi respondido 3.899 gestores em todos os estados brasileiros, representando cerca de 70% dos profissionais.

Entre esses, as profissionais mulheres – em geral brancas, na faixa dos 50 anos, com pós-graduação e comumente formadas em enfermagem – assumiram majoritariamente a gestão nas regiões Sudeste (58%), Sul (60%), Norte (47%) e Centro-Oeste (61%).

Ciência e pesquisa lideradas por mulheres

Recentemente chamou a atenção o trabalho da equipe de cientistas brasileiras que conseguiu sequenciar o genoma do popular e temido Coronavírus (COVID-19) – que já matou mais de 3 mil pessoas na China e uma dezena na Itália – num prazo de dois dias.

Liderada por Ester Sabino, médica e diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), e Jaqueline Góes, pós-doutoranda em Medicina da USP, a descoberta partiu do desenvolvimento dos protocolos para sequenciamento desenvolvidos por uma aluna durante o estágio de pesquisa em Birmingham, no Reino Unido.

Até agora, somente Brasil e França conseguiram realizar esse mapeamento genético do vírus COVID-19 em tão pouco tempo.

Tecnologia e futuro: a mulher como protagonista

Seja como profissional de saúde ou como paciente, o protagonismo feminino têm sido cada vez mais admitido e incentivado, inclusive no que tange às novas tecnologias voltadas ao mercado de healthtech, que vem criando mecanismos e soluções com foco na saúde da mulher.

De acordo com dados de 2018 divulgados pela Frost & Sullivan, startups dedicadas a esse nicho receberam US$ 1 bilhão em investimentos ao longo dos quatro anos anteriores. Chamadas de femtech, essas empresas de tecnologia são consideradas como o próximo disruptor de grande impacto no mercado de saúde.

Seguindo essa linha, o trabalho voltado ao bem-estar e à saúde de mulheres, em todas as fases da vida, abre espaço para a atuação de profissionais da saúde (e também da tecnologia, outra área ocupada basicamente por homens), que são, afinal, quem mais entende do corpo e da saúde feminina.

Espera-se, portanto, que a inovação no setor de saúde e o desenvolvimentos de soluções tecnológicas dentro dessa esfera seja o grande responsável pelo rompimento da barreira sexista, que coloca a mulher como coadjuvante até mesmo dentro do seu próprio universo, quando deveria, em verdade, fazer parte de um mundo onde as capacidades de cada pessoa não fossem julgadas por gênero, mas por inteligência, competência, alto desempenho e criatividade, que são condições inerentes a toda espécie humana.

Assim, desejamos que o Dia Internacional da Mulher seja lembrado, futuramente, mais pelas conquistas do que por sua batalha constante e luta pela vida e por seus direitos enquanto cidadãs ao longo dos séculos.

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Redação Nexxto

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