A transfusão de sangue é um procedimento que permitiu que diversas vidas pudessem ser salvas ao longo dos anos. Porém, um fator importante são as reações transfusionais, que podem ocorrer por incompatibilidade entre doador e receptor.
Nesse sentido, é importante saber reconhecer rapidamente as reações transfusionais, evitando o agravamento do quadro clínico do paciente. Dessa forma, surge a chamada hemovigilância, que é um conjunto de procedimentos adotados para acompanhar eventuais reações nos pacientes receptores.
Para auxiliar nessa identificação das reações transfusionais adversas, sejam elas imediatas ou tardias não-infecciosas, o Ministério da Saúde elaborou um Manual Técnico de Hemovigilância.
Essa cartilha tem como público-alvo todos os profissionais de saúde que participam do processo de identificação, investigação e confirmação de reações transfusionais. No artigo abaixo, explicamos um pouco mais sobre o que são as reações transfusionais, como detectá-las e quais alternativas às transfusões.
O que são reações transfusionais?
As reações transfusionais são eventos adversos associados à transfusão de sangue total ou de um de seus componentes. Sua gravidade varia de leve a potencialmente fatal e podem ocorrer durante uma transfusão, denominadas reações transfusionais agudas, ou dias a semanas depois, denominadas reações transfusionais tardias.
Estas podem ser difíceis de diagnosticar, pois podem se manifestar com sintomas inespecíficos, muitas vezes sobrepostos. Os sinais e sintomas mais comuns incluem febre, calafrios, urticária e coceira.
Alguns sintomas podem desaparecer com pouco ou nenhum tratamento. No entanto, dificuldade respiratória, febre alta, hipotensão e hemoglobinúria podem indicar uma reação mais séria.
Todos os casos de reações suspeitas devem levar à interrupção imediata da transfusão e notificação ao banco de sangue e ao médico responsável pelo tratamento.
As reações são divididas em agudas ou tardias, e que variam de acordo com os sintomas:
Reações agudas
Mesmo quando uma pessoa recebe o tipo de sangue correto, podem ocorrer reações alérgicas. As reações agudas ocorrem nas primeiras 24 horas após a transfusão.
As reações podem ocorrer por diversos motivos, e entre as principais estão:
- O sangue do doador contém proteínas plasmáticas específicas que o sangue do receptor vê como alérgenos;
- O sangue do doador contendo alérgenos alimentares, como amendoim ou glúten;
- Anticorpos no sangue de um doador reagem com anticorpos no sangue do receptor.
Reações tardias
Por sua vez, as reações hemolíticas tardias (RHT) podem ocorrer entre 24 horas e até três semanas após a transfusão. Em geral, ela ocorre pela hemólise das hemácias transfundidas, pela falha no processo de testes pré-transfusionais, que não detectam a presença de aloanticorpos.
Sintomas mais comuns
Os sintomas das reações agudas e tardias são divididos entre comuns, graves e raros, e incluem:
- Icterícia
- Febre
- Irritação na pele
- Coceira
- Urticária
- Queda da hemoglobina
- Sobrecarga hídrica
- Lesões pulmonares
- Destruição dos glóbulos vermelhos devido à incompatibilidade entre os tipos sanguíneos do doador e do receptor
- Doença do enxerto contra o hospedeiro (na qual as células transfundidas atacam as células da pessoa que está recebendo a transfusão)
- Infecções
- Complicações da transfusão de sangue maciça (baixa coagulação do sangue, baixa temperatura corporal e níveis reduzidos de cálcio e potássio)
A importância da hemovigilância
Diante da possibilidade de reação transfusional, é de fundamental importância o acompanhamento da hemovigilância. Esse serviço tem a função de detectar as reações, que podem ser comuns, graves ou raras, e iniciar os tratamentos devidos, que incluem:
- Parar a transfusão imediatamente
- Verificar se o hemocomponente foi corretamente administrado ao paciente destinado
- Providenciar outro acesso venoso e manter com soro
- Solicitar avaliação médica de imediato para diagnóstico
- Comunicar a ocorrência ao Serviço de Agência Transfusional
- Iniciar suporte clínico e administrar medicação prescrita
- Providenciar carro de parada em caso de agravamento do quadro clínico e agilizar a transferência do paciente para a UTI
- Acalmar o paciente
É importante frisar que todos os pacientes devem ser transfundidos em áreas clínicas onde possam ser observados diretamente. Importante também que tal local conte com equipe treinada na administração de hemocomponentes e no manejo de pacientes transfundidos, incluindo o tratamento de emergência de anafilaxia.
Os pacientes devem ser solicitados a relatar os sintomas que se desenvolvem dentro de 24 horas após o término da transfusão. Se um paciente que está recebendo uma transfusão para hemorragia desenvolver hipotensão, uma avaliação de risco clínico cuidadosa é necessária.
No entanto, se o hemocomponente for considerado a causa mais provável de hipotensão, a transfusão deve ser interrompida ou trocada para um componente alternativo e deve-se iniciar o manejo e investigação apropriados.
O uso do manual de hemovigilância
Uma forma de tornar mais seguro os procedimentos de hemovigilância foi a criação de um Manual Técnico. Ele foi criado pelo Ministério da Saúde como forma de orientar todos os profissionais envolvidos em transfusões a saber reconhecer e adotar os protocolos necessários em caso de alguma reação.
A elaboração do Manual contou com a participação de diversos especialistas na área, e levou sete anos entre seu início, discussões e publicação final. Ele conta ainda com o conhecimento e a experiência de diversos profissionais, buscando referências no que há de mais atual na literatura mundial sobre o tema, respeitando sempre a legislação vigente da hemoterapia no país.
O documento é destinado a médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos de laboratórios, entre outros profissionais da saúde.
Com o uso do Manual, foi disciplinado o reconhecimento de reações transfusionais e permite uma tomada de decisão mais assertiva.
O Manual Técnico para Investigação das Reações Transfusionais Imediatas e Tardias não Infecciosas propõe ainda uma sistematização do processo de investigação das reações em questão, envolvendo ações intersetoriais articuladas, visando à tomada de decisões e ao estabelecimento de ações estratégicas de hemovigilância.
É apresentado um passo-a-passo completo envolvendo a transfusão de sangue, desde a recepção do paciente, os exames necessários e quais os procedimentos que devem ser seguidos durante a transfusão. Dessa forma, os erros são minimizados a zero e se garante a segurança do paciente no processo.
Alternativas à transfusão de sangue
A transfusão de sangue pode salvar vidas. Porém, como observado acima, algumas reações adversas podem ocorrer durante o processo. Nesse sentido, algumas alternativas podem ser utilizadas visando reduzir as possibilidades de tais reações, a transmissão de doenças, a falta de sangue compatível, entre outros aspectos.
Em geral, as opções alternativas são usadas para pacientes que passarão por procedimento cirúrgico, e incluem:
Evitar a anemia
No caso de uma cirurgia e o paciente apresentar anemia causada por falta de ferro, deve ser-lhe oferecido esse mineral previamente para tratar esta situação.
Ácido tranexâmico e recuperação de células
Os coágulos sanguíneos se formam para interromper o sangramento quando você se machuca, seja por um corte na pele ou durante uma operação. O ácido tranexâmico é um medicamento que ajuda o sangue a coagular melhor.
Isso pode evitar que exista perda de muito sangue durante uma operação. A equipe cirúrgica também pode usar um equipamento especial para coletar todo o sangue, de modo que possa ser devolvido posteriormente, chamado de ‘recuperação de células’.
Eritropoietina
A eritropoietina é um medicamento que ajuda o corpo a produzir mais glóbulos vermelhos. Em geral, esse medicamento é usado apenas quando não há sangue do tipo sanguíneo necessário disponível.
Tenha uma equipe preparada
Dessa forma, é possível observar que a transfusão de sangue é um processo importante. Mas é necessária uma vigilância em relação às reações transfusionais.
Nesse aspecto, é vital ter uma equipe preparada para realizar a hemovigilância a fim de detectar logo aos primeiros sinais cada reação adversa. Além disso, uma análise prévia do sangue do doador, bem como do receptor, também é essencial para evitar qualquer complicação que possa advir do procedimento.
Isso requer uma equipe altamente treinada e capaz de detectar as reações transfusionais. Como forma de aperfeiçoar o processo, protocolos clínicos podem ser criados e seguidos pela equipe. Dessa forma, é possível dar mais segurança e qualidade ao atendimento do paciente.
Outra possibilidade para se evitar as reações transfusionais resultantes da transfusão pode ser a adoção da Hemodinâmica nos procedimentos cardíacos. E sobre o tema, temos um artigo exclusivo no nosso blog. Clique e confira!