Publicado em 15 julho 2020 | Atualizado em 15 julho 2020

A pandemia da COVID-19 transformou a rotina de milhões de pessoas. Os hospitais se tornaram os locais de maior risco para pacientes e profissionais de saúde, dando ênfase à telemedicina. Assim, essa mudança brusca de cenário trouxe à tona uma nova realidade, aquilo que agora chamam de “o novo normal”.

Ou seja, a partir da necessidade de isolamento social, a perspectiva em relação a uma série de atividades cotidianas se modificou. O que antes era simples e corriqueiro – como uma ida ao supermercado ou à farmácia – se tornou um problema de saúde pública.

Ao mesmo tempo, as necessidades básicas do cotidiano permanecem, exigindo a rápida adaptação de toda a sociedade. E se antes alguns recursos não eram tidos como essenciais, hoje são considerados extremamente necessários, inclusive, à sobrevivência.

Logo, a prática da telemedicina rapidamente se expandiu e ganhou mais adeptos entre pacientes e profissionais de todo o mundo. Isso foi devido à capacidade de oferecer serviços de saúde remotamente, através de recursos de Inteligência Artificial e IoT.

Conforme publicado pelo jornal americano Pittsburgh Post-Gazette, a quarentena aumentou bruscamente os atendimentos remotos na clínica Genesis Medical Associates. Se antes não havia uma demanda significativa, em pouco tempo o isolamento causado pela COVID-19 levou de 60 a 80% dos pacientes a procurarem atendimento remoto.

E mesmo com a reabertura dos serviços na região da Pensilvânia, a prática ainda perdura. Afinal, com o uso de ferramentas eletrônicas, as idas ao consultório ou pronto-socorro podem ser reduzidas. Imediatamente, há uma diminuição do risco de contaminação que esses locais tendem a apresentar.

O que é e como surgiu a telemedicina?

Considerada uma especialidade dentro da área de telessaúde, a telemedicina oferece serviços de assistência médica à distância. Juntamente com recursos tecnológicos apropriados, pela internet os médicos conseguem realizar consultas e avaliações. Ao mesmo tempo, é possível prescrever tratamentos, fazer diagnósticos e acompanhar o paciente na evolução do quadro.

De acordo com a Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), o foco está na promoção de melhores condições de atendimento por meio de processos automatizados.

Portanto, com o avanço dos métodos de comunicação, o contato entre médico e paciente se tornou mais prático e simplificado. Da mesma forma, a presença das healthtechs com o desenvolvimento de tecnologias cada vez mais avançadas, maximiza o potencial dos recursos já existentes.

Primeiros registros da telemedicina

Mesmo como o envolvimento de tecnologias no conceito da telemedicina, sua origem é anterior à maioria dos recursos atuais.
Existem relatos da presença do atendimento médico remoto na Idade Média, onde um médico, isolado, fazia estudos e repassava orientações a um agente da comunidade, que levava ajuda à população no combate às pragas da época.

Contudo, a inexistência de comprovação desses fatos leva ao registro oficial da prática somente no século XIX. Assim, com o surgimento do telégrafo, foi possível que médicos compartilhassem laudos de exames com colegas distantes. Logo depois, no final daquele século, a invenção do telefone aperfeiçoou a técnica.

E quando finalmente as linhas telefônicas possibilitaram a transmissão de dados através dos aparelhos de fax, tornou-se possível compartilhar resultados de exames de imagem como eletrocardiogramas.

Há também registros da telemedicina durante a Segunda Guerra Mundial. Ao passo que as ondas de rádio já proporcionavam avanços na comunicação, era comum que médicos nas frentes de batalha contatassem colegas nos hospitais de retaguarda ou dentro dos navios.

Formas de atuação

Além da facilidade nas consultas e avaliações clínicas em tempos de isolamento social, a telemedicina possui uma atuação mais ampla. Os recursos disponíveis são importantes para otimizar tempo e reduzir custos de logística. Dessa forma, a prática contribui para muitas áreas onde a saúde digital pode ser aplicada, como por exemplo:

  • Telelaudos: entre as principais vantagens está a emissão de laudos à distância. Isso é possível com o uso de softwares que possibilitam o recebimento de diversos tipos de exame para que sejam analisados por um especialista;
  • Teleconsulta: é a prática mais comum, pois permite o atendimento médico à distância, além de outras rotinas clínicas, como triagem, acompanhamento e orientação ao paciente;
  • Telecirurgia: permite que procedimentos invasivos sejam realizados com uso de robôs guiados remotamente pelo cirurgião responsável;
  • Telemonitoramento: vigilância dos parâmetros de saúde do paciente à distância, esteja ele em um hospital, clínica ou domicílio. Esse recurso é possível com equipamentos e dispositivos que medem os sinais vitais e transmitem os dados diretamente para o médico.

Impactos positivos da telemedicina em tempos de pandemia

O crescimento diário dos casos de COVID-19 tem aumentado a preocupação com a possibilidade de um colapso na saúde. Mas, se por um lado, há um cenário negativo, por outro, existem impactos positivos trazidos pela telemedicina.

Ao mesmo tempo em que ela reflete benefícios para os pacientes em isolamento social, os médicos também se resguardam. Simultaneamente, o atendimento remoto traz mais segurança para os demais profissionais que estão na linha de frente – enfermeiros, atendentes, radiologistas, entre outros.

Além disso, demais benefícios foram trazidos pela telemedicina durante a pandemia da COVID-19, como por exemplo:
desenvolvimento de infraestrutura e tecnologias para atendimento remoto;

  • permissão para expansão da atividade, levando atendimento médico para mais pessoas;
  • redução dos custos ao usuário por parte de seguradoras e operadoras de planos de saúde;
  • maior oferta de profissionais em atendimento remoto;
  • solidificação da relação médico-paciente.

Outro impacto positivo da telemedicina foi o conforto dado ao paciente durante o atendimento. Isso porque, como se sabe, são comuns as queixas relacionadas ao tempo de espera por atendimento nas clínicas.

E justamente num momento onde as pessoas estão mais abaladas – física e mentalmente – é extremamente benéfico poder desfrutar da atenção médica estando em casa, na segurança do lar.

Assistência médica remota no cenário mundial

Assim como a epidemia de H1N1, Gripe Suína e até do HIV, a COVID-19 atingiu fortemente a maioria dos países. Imediatamente, a adoção de medidas restritivas foi necessária para conter o avanço da doença. Simultaneamente, teve início a busca por remédios que minimizam os efeitos do vírus e de vacinas que possam prevenir a contaminação.

Nesse meio tempo, a telemedicina emergiu e reacendeu a discussão sobre a prática. Nos países onde a atividade já era permitida, houve um grande salto no número de atendimento. Assim, Estados Unidos, Canadá, países da Europa e Oriente Médio têm se valido da tecnologia para o acesso à saúde em tempos de pandemia.

Nos EUA, a adoção do método por parte dos usuários subiu de 11% em 2019 para 46% atualmente. Porém, a pesquisa de consumo da McKinsey mostrou que 76% dos consumidores demonstram interesse pela modalidade virtual. Já entre os profissionais que oferecem o serviço, a presença dos atendimentos remotos foi até 175 vezes maior.

Espaço para a regulamentação brasileira

Com o rápido alastramento da COVID-19 no Brasil, a telemedicina foi vista como estratégia para ampliação do acesso ao atendimento médico. Assim, com a aprovação da Lei nº 13.989/2020, o exercício da medicina remota passou a valer em todo país durante a pandemia do coronavírus.

Tal medida contribui principalmente para casos que requerem acompanhamento permanente e continuidade no tratamento. Do mesmo modo, pessoas mais carentes e que vivem em locais distantes também se beneficiam.

Porém, como consta na legislação, a cada novo atendimento, o médico precisa informar ao paciente sobre as limitações da telemedicina. Entre elas, a impossibilidade de realizar exames físicos durante a consulta.

Sobre a possibilidade de regulamentação da atividade após o período emergencial, o texto original do projeto de lei, continha um dispositivo previa essa regulamentação pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). No entanto, isso foi vetado.

Todavia, de acordo com matéria publicada pela Agência Senado, o presidente da república alegou que o atendimento médico remoto deverá ser regulado por lei após o fim da pandemia.

Atendimento público e privado

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), quem possui plano de saúde deve procurar sua operadora para solicitar o
atendimento remoto. A empresa, por sua vez, deverá orientar o usuário sobre os profissionais que oferecem o serviço.

De acordo com a ANS, hospitais e clínicas não tem obrigatoriedade na oferta da telemedicina. Mas a operadora do plano de saúde deve apresentar uma alternativa ao cliente.

Da mesma forma, a modalidade também pode ser utilizada no Sistema Único de Saúde (SUS). Pois com as consultas remotas, além da ampliação no acesso à saúde, também se evita que os pacientes sejam expostos ao vírus nas unidades de atendimento.

Conforme orientação do Ministério da Saúde, a pessoa que desejar ser atendido à distância deve entrar em contato diretamente com o posto onde está cadastrado.

Telemedicina pós COVID-19: como será o futuro do setor?

Ainda há muita especulação sobre as mudanças em diversos setores pós COVID-19. O que se sabe é que, fatalmente, haverá um impacto social e econômico de grande relevância. Desde já, sabe-se que, devido à aceitação cada vez maior das novas tecnologias, haverá sempre mais pessoas aderindo à telemedicina.

Mesmo que, lamentavelmente, essa mudança tenha se originado num momento de caos e dor, espera-se por um futuro promissor, onde vidas serão poupadas ainda mais. Sob o mesmo ponto de vista, a pandemia do coronavírus já representa a ascensão de tecnologias em saúde, com o desenvolvimento cada vez mais rápido de medicamentos.

Portanto, esta é uma oportunidade grandiosa para a pesquisa e adoção de soluções tecnológicas. E, obviamente, a prática da medicina remota avançará cada vez mais, conforme o aprimoramento de técnicas e dispositivos digitais.

Nesse sentido, não é difícil prever que os serviços remotos continuarão crescendo mesmo num mundo pós COVID-19. Afinal, muitos pacientes já percebem como a telemedicina pode conveniente. Do mesmo modo que os consumidores em geral já se habituaram com outras atividades semelhantes, como delivery e compras online.

Por isso, esse novo modus operandi da prática médica tende a transformar completamente – e desde já – o setor de saúde. Contudo, será necessária uma ação coordenada de esforços entre setores público e privado, profissionais de saúde e healthtechs.

Barreiras comuns à telemedicina e como superá-las

Existem e existirão ainda inúmeras barreiras para a implementação da telemedicina, especialmente no Brasil. Todavia, tal prática pode solucionar grandes problemas enfrentados na área de saúde.

Porém, o enfrentamento dos desafios é necessário, uma vez que a mudança é iminente e irreversível. Em suma, pode-se afirmar que o setor terá pela frente cinco principais barreiras para uma adoção sólida da atividade. São elas:

  • a inércia tecnológica e a resistência à inovação;
  • o encontro de saídas para a correção de problemas de reembolso;
  • o ambiente regulatório sobre o compartilhamento de dados a partir da LGPD;
  • a integração das tecnologias da IA ​​nos hospitais e na prática clínica;
  • o empoderamento do paciente e o engajamento público frente aos novos recursos.

Para a superação dessas e de outras barreiras, no entanto, é preciso dar o primeiro passo para a mudança de paradigma. Em outras palavras, é fundamental o investimento massivo em tecnologia, para que a oferta do serviço seja feita com qualidade.

Simultaneamente, deve-se ampliar a participação da sociedade no debate entre poder público e iniciativa privada sobre o que, de fato, é o melhor para a população.

Desse modo, é possível acreditar que, mesmo com toda crise trazida pela COVID-19, essa doença deixará um legado de transformações positivas, das quais as futuras gerações se beneficiarão integralmente.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.