Publicado em 20 junho 2019 | Atualizado em 6 julho 2021

Garantir o conforto térmico em ambiente hospitalar em um país como o Brasil pode ser uma tarefa difícil. As dimensões continentais do território brasileiro proporcionam microclimas e temperaturas das mais variadas, sendo algumas regiões bastante frias durante todo o ano enquanto outras são muito quentes e úmidas. Assim, não é raro confrontarmos sensações térmicas bastante incômodas.

Desse modo, o ar condicionado ou ventiladores – embora estas sejam alternativas menos eficazes – são essenciais para manter uma temperatura agradável em locais fechados e evitar possíveis problemas de saúde. Num hospital, onde a permanência pode ser prolongada, a necessidade de manter o conforto térmico do ambiente se torna ainda maior.

Conforme apresentado numa pesquisa intitulada “O ambiente e os fatores perceptivo-sensoriais“, realizada em 2006 pelo arquiteto e professor Romano Del Nord, da Universitá de Firenze, na Itália, o conforto dos ambientes (seja visual, acústico ou térmico) é capaz de produzir resultados relevantes para a humanização da assistência à saúde, promovendo os seguintes benefícios:

  • reduzir o estresse e a fadiga dos profissionais de saúde, melhorando a eficácia da assistência prestada;
  • melhorar a segurança do paciente no ambiente hospitalar;
  • reduzir os níveis de estresse no paciente, ampliando as possibilidades de êxito no tratamento clínico.

Portanto, além de ser uma abordagem fundamental para o bom desempenho do trabalho, no caso dos profissionais de saúde, também há uma questão inerente à condição do paciente, onde cada um percebe o ambiente dentro do hospital de maneira única e, em condições de convalescência ou durante o tratamento, se torna ainda mais sensível e vulnerável às temperaturas.

O que diz a legislação

Publicado em 2014 pela Anvisa, o guia “Conforto Ambiental em Estabelecimentos Assistenciais de Saúde” traz uma série de recomendações sobre as condições de ambientes hospitalares, aprofundando as diretrizes técnicas abordadas na RDC nº 50/2002, que trata sobre os projetos físicos dos estabelecimentos assistenciais de saúde.

Isso porque, diante dos riscos inerentes ao ambiente hospitalar, a instalação e manutenção correta de um sistema eficiente de climatização é essencial, tanto para garantir o conforto térmico dos pacientes e profissionais que atuam no local, quanto para evitar a proliferação de fungos e bactérias ou quaisquer outros microorganismos prejudiciais à saúde, e que se propagam mais facilmente nas condições térmicas propícias.

Desse modo, além da RDC nº 50 e do guia de conforto ambiental da Anvisa, outras normas e leis foram criadas para que esses locais se mantenham sempre adequados e saudáveis em relação à temperatura e qualidade do ar. São elas:

Norma 7256:2005

Para assegurar a eficiência total dos sistemas de ar condicionado, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) criou a norma 7256:2005, estabelecendo parâmetros e requisitos para os estabelecimentos de saúde.

Como função principal, a norma visa instruir e controlar as instalações dos sistemas de climatização em hospitais, verificar o controle de ruído dos equipamentos, o índice ideal de temperatura, a umidade relativa e a velocidade do ar. Além disso, fica estabelecido também os padrões de limpeza e manutenção periódica dos aparelhos para garantir seu funcionamento correto.

Lei 13.589/2018

Através da Lei Federal 13.589/2018, a manutenção de sistemas de climatização dentro de prédios públicos e privados coletivos, assim como os hospitais e laboratórios, tornou-se obrigatória, determinando que estes devem dispor de um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC).

O objetivo da legislação é garantir uma boa qualidade dentro dos ambientes e minimizar ou eliminar possíveis riscos presentes nesses locais. A Lei 13.589 vem complementar a norma 7256:2005, determinando que a manutenção dos equipamentos seja realizada periodicamente, para, além dos cuidados com a saúde e o conforto térmico de quem ocupa o local, também aumentar a vida útil dos aparelhos e gerar mais economia de energia.

Leis trabalhistas e o conforto térmico

O que talvez pouca gente saiba é que providenciar conforto térmico não é opcional para o empregador. A legislação trabalhista determina quais são as condições mínimas de trabalho.

Há artigos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que regulam o tema e deixam bastante clara a responsabilidade do contratante. De acordo com o Artigo 176, os locais de trabalho devem ter ventilação natural compatível com o serviço realizado. Caso ela não preencha as condições de conforto térmico, a ventilação artificial será obrigatória.

O artigo 178, por sua vez, determina como referência o que é estipulado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Em sua Norma Regulamentadora 17, o MTE define a temperatura efetiva entre 20 e 23 graus Celsius no ambiente de trabalho onde são executadas atividades de cunho intelectual. A umidade relativa nesses casos deve ser inferior a 40%.

Conforto térmico: definição das condições térmicas ideais

Os parâmetros fundamentais do conceito de conforto térmico levam em conta aspectos individuais e ambientais, apresentando as seguintes variáveis:

  • atividade desempenhada;
  • vestimentas;
  • temperatura do ar;
  • umidade relativa do ar;
  • velocidade do ar;
  • além da temperatura média radiante.

A metodologia de cálculo das condições ideais é direta ao ponto. Consiste em aplicar os valores das seis variáveis acima nos coeficientes da equação de conforto térmico, calculando a acumulação energética no corpo.

O resultado dessa equação é então confrontado com um conceito conhecido por Voto Médio Predito (PMV, em inglês). Ele nada mais é que uma previsão de voto de um grande grupo de pessoas através de uma escala quantitativa de sensações de calor e de frio.

Quanto mais próximo de zero, a sensação tende a ser neutra, e proporcionalmente mais pessoas se sentiriam confortáveis.

A partir do PMV temos uma correlação com o conceito de Porcentagem Predita de Insatisfeitos (PPV, em inglês). Assim, sob conforto térmico ótimo (entre -1 e 1 de PMV), não mais que 10% dos ocupantes do ambiente de trabalho (segundo o PPV) se sentiriam desconfortáveis.

A porcentagem de 10% ou menos de pessoas insatisfeitas é dada como termicamente aceitável, de acordo com o ISO 7730. Portanto, devido às diferenças individuais, sempre haverá uma porcentagem de insatisfeitos.

O impacto na produtividade do funcionário e no paciente

Se ater às leis e princípios do conforto térmico é uma das obrigações do empregador e do gestor de um hospital ou clínica. Afinal, o calor em excesso proporciona, além de desconforto, irritabilidade e sudorese.

Um relatório da NASA aponta que há perda de produtividade e maior frequência de tomada de decisões equivocadas quando as pessoas estão sob temperaturas altas.

Os dados apontam que os profissionais submetidos à temperatura de 34°C chegam a apresentar queda de 39% de rendimento, além de 700% no aumento das chances de tomar más decisões.

No verão, com o aumento do calor e da umidade, a capacidade de trabalho das pessoas chega a reduzir em 10%, conforme aponta uma pesquisa da revista científica Natural Climate Change.

Tal índice pode ainda crescer num cenário de tendência de aumento da temperatura média mundial.

Desse modo, a sensação de temperatura abafada nos ambientes, em especial num hospital, tende a afetar pacientes e profissionais, pois a baixa na pressão corporal provocada deixa o indivíduo sem ânimo e abatido fisicamente.

Apesar de o conforto térmico ser bastante subjetivo, manter um ambiente neutro ou levemente frio melhora nosso desempenho intelectual, estimulando a concentração, o aprendizado e, consequentemente, aumentando a produtividade e a sensação de bem-estar.

Inclusive, uma condição de clima mais ameno favorece até para que fiquemos mais despertos.

Isso ocorre porque nessas condições o corpo é estimulado a produzir adrenalina, substância que afeta o grau de motivação que temos para exercer qualquer atividade ou mesmo para permanecer em repouso de maneira agradável.

Portanto, o equilíbrio do nível de adrenalina proporciona um estado satisfatório entre vagarosidade e inquietude, que podemos denominar informalmente como “zona do foco”.

No ambiente hospitalar, é esse estado que dá a sensação ideal de conforto favorável ao rendimento das atividades profissionais e também a estabilidade adequada aos pacientes, melhorando sua experiência e aumentando, inclusive, a satisfação com os serviços prestados pela instituição.

Por que e como monitorar a temperatura no ambiente hospitalar?

Além de ser necessário para cumprir o que é determinado pela legislação, o conforto térmico é essencial ao bem-estar do indivíduo. Num hospital, onde as atividades já contém, de certo modo, um nível de tensão, a necessidade de se manter as condições térmicas favoráveis para profissionais e pacientes é ainda mais importante.

E para que essas condições sejam mantidas, é preciso garantir a capacidade considerada ótima na refrigeração dos ambientes.

Contudo, em locais menores os próprios colaboradores podem administrar as condições de temperatura e perceber qualquer desvio, acionando a manutenção rapidamente.

Porém, em instituições amplas, com setores e áreas diversas como um hospital, por exemplo, monitorar a temperatura e manter a climatização adequada em todos os ambientes é algo muito mais complexo.

Desse modo, o tempo entre o problema e a solução pode ter um impacto indireto bastante negativo.

Nesse cenário, é fácil imaginar qual seria o valor de poder gerar um alerta em tempo real caso houvesse alguma inconformidade com o funcionamento do sistema de ar condicionado por um intervalo maior que o normal.

Além disso, o acompanhamento do histórico dos dados poderia garantir a conformidade da organização com as normas legais, além de poder gerar insights úteis para a equipe de infraestrutura.

Mas como garantir esse monitoramento?

Existem atualmente soluções bastante simples e acessíveis para controlar a temperatura e a umidade dos mais variados tipos de ambientes, sejam eles de pequenas ou grandes dimensões.

E tudo isso em tempo real, através dos recursos tecnológicos da internet das coisas, que conecta equipamentos e pessoas através da internet, com acesso por tablet, smartphone e computador, em qualquer lugar e horário.

Além disso, essa é uma forma de garantir as condições ideais do ambiente hospitalar e dar um salto de eficiência para sua equipe de manutenção na resolução dos problemas.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.