Quando falamos de logística de medicamentos, estamos realmente falando de enfrentar desafios geográficos, políticos, financeiros e logísticos. Especialmente quando se trata da indústria da saúde, os requisitos de temperatura e tempo são excessivamente rígidos e diversos.
No setor hospitalar, o processo de aquisição consiste em garantir a disponibilidade de medicamentos, materiais descartáveis, insumos, equipamentos e provisões para a prestação de serviços de saúde de qualidade.
No Brasil, toda a regulamentação envolvida na logística de medicamentos e distribuição está ligada à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Ela é a responsável em ditar as regras sobre condições de transporte, cuidados e quais outros fatores devem ser observados.
Vale lembrar que a indústria farmacêutica é a responsável pela produção de substâncias e medicamentos essenciais à vida. Além disso, é um setor amplamente lucrativo: dados da Ansa de 2017 indicaram uma movimentação de quase R$ 70 bilhões, para a comercialização de 6.587 produtos diferentes.
Diante de fatores como recursos envolvidos, qualidade do material, cuidados, entre outros pontos, a logística de medicamentos requer uma atenção redobrada. E como forma de tornar o processo mais eficiente, a tecnologia vem ganhando cada vez mais espaço.
O que é logística farmacêutica?
Em termos gerais, a logística farmacêutica está relacionada ao manuseio, transporte, distribuição e gestão da cadeia de produtos múltiplos e variados. Nesse aspecto, a grande maioria requer condições específicas no seu tratamento logístico.
Conforme indicado pela Agência Nacional de Saúde, os produtos farmacêuticos variam de medicamentos e todas as suas tipologias. Isso inclui, produtos de saúde e instrumentos médicos e cirúrgicos, a produtos cosméticos e perfumaria, matérias-primas, materiais biotecnológicos ou biofarmacêuticos.
Pretende-se assim cumprir as especificações logísticas de uma vasta gama de produtos, alguns dos quais requerem condições de temperatura controlada desde a fase de produção ou processamento até ao momento do consumo.
Por exemplo, em termos de controle de temperatura, a maioria dos produtos farmacêuticos exige armazenamento e transporte em temperaturas que variam de -150 °C a 25 °C para preservar sua eficácia.
Dessa forma, a logística deve ser perfeita, considerando ainda pontos como o armazenamento e o transporte, que devem atender a procedimentos rígidos de limpeza, controle de pragas e umidade.
Logística reversa de medicamentos
O que você faz com o medicamento vencido? A grande maioria, infelizmente, os descartam no lixo comum. Cerca de 3% dos medicamentos não são usados antes de expirar. E até 40% dos brasileiros têm medicamentos vencidos em suas casas.
Ele acaba nos esgotos e, eventualmente, no abastecimento de água. Ou pode chegar a aterros se for jogado no lixo, o que representa um risco para a saúde das pessoas e animais.
As empresas farmacêuticas e varejistas que comercializam os medicamentos têm o compromisso de retirar das prateleiras os itens vencidos e possuem logística reversa para isso.
Algumas considerações importantes para a logística reversa de medicamentos devolvidos incluem a segurança. Isso visa manter os custos baixos por meio de tecnologia e automação e rastreando as devoluções desde a interceptação inicial até sua disposição final.
A visibilidade da cadeia de suprimentos também é essencial para qualquer cadeia farmacêutica, incluindo logística reversa, uma vez que produtos falsificados e perdidos ou roubados continuam a ser uma grande preocupação para esta indústria.
No Brasil, a logística reversa de medicamentos ainda é bastante recente. Somente por meio do Decreto 10.388, de 5 de julho de 2020, ela foi regulamentada. Pelo decreto, cada consumidor deve levar produtos vencidos ou em desuso até uma farmácia.
Lá, o produto será recolhido pela distribuidora, que será responsável a levar novamente até a indústria. Esta última tem a missão de dar a destruição ao medicamento em um local ambientalmente adequado, que pode ser um incinerador, uma usina de processamento ou então em aterro sanitário de grau 1 controlado e devidamente homologado.
Como é a logística de medicamentos?
Produzir um medicamento é apenas o primeiro passo para levá-lo ao paciente que dele necessita. A indústria farmacêutica, com seus rigorosos requisitos de segurança e estabilidade do produto, possui uma das cadeias logísticas mais complexas do mundo hoje.
A logística de medicamentos de alta tecnologia não é apenas uma despesa, é um investimento em um melhor acesso a estes insumos e pode reduzir os custos gerais de saúde, tornar o processo mais eficiente, e melhorar o atendimento ao paciente.
Para proteger os pacientes de produtos médicos inseguros, a OMS diz que é fundamental que “não exista nenhum elo fraco na cadeia de abastecimento” e que o transporte, distribuição e o armazenamento precisam demonstrar uma série ininterrupta de etapas. Para isso, é necessário que cada medicamento, de um simples comprimido a uma infusão complexa, conclua sua jornada com segurança e no prazo.
Transportar produtos biológicos, por exemplo, não é tarefa fácil. Cada remessa desses medicamentos especializados, produzidos com organismos vivos, exige uma faixa estrita de temperatura de 2 °C a 8 °C, e sua produção exige muito dinheiro.
E não são apenas os medicamentos em si que podem ser caros. Embora a logística seja apenas uma etapa na cadeia de suprimentos farmacêutica, esses processos de remessa podem representar quase 40% das despesas operacionais totais.
Os produtos farmacêuticos modernos seguem dois processos-chave de controle. As Boas Práticas de Fabricação (BPF), regulamentado pela Resolução RDC 301/2019, ajudam a garantir a qualidade do produto, com um processo definido para cada medicamento. Essas práticas também visam garantir que um produto seja da mais alta qualidade quando sai do armazém e entra na cadeia de abastecimento.
De modo geral, a logística de medicamentos inclui as seguintes etapas:
Fábricas
Nas fábricas os produtos farmacêuticos são produzidos e embalados. Todo processo exige muito cuidado e supervisão.
Na estrada
Caminhões especiais são utilizados para o transporte de medicamentos entre as fábricas e os centros de distribuição. Ao longo de toda a viagem, sensores monitoram a temperatura principalmente de medicamentos termolábeis e que precisam seguir as determinações da cadeia de frio.
Pelo ar
Quando o tempo é de extrema necessidade, aviões são utilizados para levar medicamentos entre um pouco e outro com mais agilidade. Nesse caso, também há necessidade de controle de temperatura de forma ainda mais contundente, evitando que determinados medicamentos se tornem biodisponíveis.
Centros de distribuição
Antes de ir até às farmácias, hospitais ou clínicas, os medicamentos são alocados em centros de distribuição regionais. Nestes locais, são separados em lotes menores, e rapidamente despachadas aos seus destinos.
Farmácia de destino
Nas farmácias de destino os medicamentos são estocados ao alcance de um braço. Em geral, armazenam quantidades suficientes para atender a demanda por determinado período, e fazem novos pedidos conforme o estoque vai baixando. Quando o pedido é feito, todo o processo logístico reinicia.
Como tornar o processo mais eficiente
Apesar de parecer simples, a distribuição e logística de medicamentos requer cuidados em cada uma das etapas. Além disso, toda a cadeia de suprimentos farmacêutica geral tem uma série de oportunidades para reduzir custos.
Por exemplo, a tecnologia está oferecendo novas maneiras de coordenar tarefas. Há apenas cinco anos, havia um sensor de temperatura e outro rastreava a localização, estabilidade e assim por diante.
Agora, um sensor pode medir tudo isso e fazer muitas outras medidas de controle. Além disso, sistemas de satélite móveis e baseados em rádio, juntamente com tecnologias como GPS, são companheiros constantes durante a viagem dos produtos. Essa capacidade de marcar e monitorar totalmente um produto ao longo de seu ciclo de vida é um ativo crucial.
Outro ponto a ser considerado no Brasil é sua extensão territorial e dificuldades logísticas de cada região. Por exemplo, na região Sudeste é uma vasta rede de rodovias interligando cidades. Já na região amazônica, cidades estão distantes centenas de quilômetros entre si, e às vezes, a única via de ligação é por meio de rios. Ou seja, algumas características logísticas precisam ser pensadas conforme a realidade de infraestrutura de cada região para planejar a distribuição.
Nesse sentido, alguns pontos passam a ser cruciais para tornar o processo mais eficiente, tais como a importância dos profissionais responsáveis, planejamento de rota, controle de temperatura, veículos adequados, controle prevenção de riscos, coleta de dados, entre outros.
Transporte de vacinas
Um desafio atual quando se fala em logística de medicamentos está no transporte de vacinas da Covid-19. Com uma necessidade urgente de vacinar o máximo de pessoas no menor tempo possível, um planejamento específico precisou ser elaborado para atingir os resultados. Aliado a isso, há os cuidados com a segurança, evitando que as vacinas caiam na mão de pessoas erradas e sejam desviadas, prejudicando ainda mais a população.
De modo geral, o conservante de temperatura utilizado tem sido o gelo seco a depender da faixa de temperatura que o imunizante precisa estar. Mas a logística inclui caminhões especiais, escolta e sigilo, para evitar qualquer tipo de interceptação dos imunobiológicos.
Os desafios do transporte
Como ficou evidente no artigo acima, a distribuição e logística de medicamentos no Brasil requer um planejamento prévio. Ele precisa pontos como o destino, o tipo de medicamento e quais cuidados extras requer, o tempo e a existência de centros de distribuição regionais.
Qualquer erro ao longo do processo pode inviabilizar o fármaco, ou então fazer com que ele caia em mãos erradas, prejudicando ainda mais a população. A logística reversa também tem um papel essencial para que o descarte dos materiais seja feito de forma correta.
Ou seja, a logística de medicamentos é um processo complexo e que requer pessoas capacitadas à frente de cada etapa. Dessa forma, torna-se mais eficiente, segue as normas governamentais, e garante o atendimento ao paciente na ponta de forma rápida e segura.
Aproveite e confira nosso artigo sobre Gerenciamento da cadeia de suprimentos: como evitar a escassez.