Publicado em 2 março 2021 | Atualizado em 3 março 2021

Entre os maiores desafios das campanhas de vacinação está manter a temperatura ideal ao longo de toda a cadeia do frio. Nesse sentido, ao seguir o Manual de Rede de Frio do Plano Nacional de Imunização, as chances de qualquer erro podem ser reduzidas.

Aliás, o Manual é de fundamental importância para a conservação de vacinas, ainda mais em um período tão crítico como o vivenciado por conta da vacinação contra o COVID-19. Nesse sentido, as vacinas precisam manter uma temperatura baixa constante para sua integridade

Infelizmente, o resfriamento excessivo acidental é algo comum, e resultam na perda de dinheiro e tempo gasto na implementação de programas de revacinação.

Dessa forma, o Manual elaborado pelo Ministério da Saúde traz uma série de diretrizes com o objetivo de informar todos os profissionais envolvidos ao longo do processo sobre cada etapa. Abaixo, trazemos os pontos mais importantes que você deve considerar.

Por que a cadeia de frio é tão importante?

A cadeia de frio refere-se à preservação de temperaturas consistentes para vacinas refrigeradas, desde a fabricação até a entrega nas instalações de saúde . Durante este processo, as partes interessadas em cada parada devem monitorar e manter a faixa de temperatura ideal da vacina (idealmente entre 2 ° C e 8 ° C).

O resultado de não monitorar as temperaturas da vacina com precisão — mesmo por curtos períodos — pode ocasionar em:

  • Degradação da fórmula
  • Perda de potência
  • Desperdício de produto e dinheiro
  • Respostas imunológicas abaixo do padrão
  • Necessidade de reimunizar pacientes

E como forma de seguir um padrão de controle, foi criado pelo Ministério da Saúde o Manual de Rede de Frio do Programa Nacional de Imunização. Ele elenca todas as medidas necessárias para garantir a qualidade de vacinas ao longo de toda a cadeia — desde a produção até a aplicação nas unidades de Saúde, mesmo em regiões mais remotas do Brasil.

O que é o PNI?

Antes de falarmos sobre esse importante controle de temperatura, vamos explicar sobre o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil, que é uma referência internacional de política pública de saúde.

O programa foi criado em 1973 com o objetivo de permitir que todos os brasileiros pudessem ser imunizados contra as mais variadas doenças Desta forma, ele permite o acesso às vacinas sem qualquer discriminzação, seja por condição social ou localização.

É por meio do PNI que são realizadas as campanhas nacionais de vacinação, que já permitiram que o país erradicasse doenças como a varíola e a paralisia infantil (poliomielite). O programa também possibilita que todos os brasileiros tenham acesso às vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de forma gratuita.

Entre outras ações desenvolvidas pelo PNI, estão metas como a erradicação do sarampo e do tétano neonatal. Há também vacinações de controle de doenças imunopreveníveis, como o tétano acidental, a coqueluche, a difteria, a febre amarela, meningites e a hepatite B.

Para isso, no Brasil há distribuídas 36 mil salas de vacina, que aplicam em média 300 imunobiológicos por ano. São 27 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas.

Nesse sentido e para garantir que todo o processo ocorra da forma mais segura possível, há a necessidade do controle de toda a cadeia do frio.

Importância do controle em todo o processo

De acordo com o Manual de Rede de Frio, o transporte de imunobiológicos é feito por via aérea, terrestre ou aquática, dependendo da origem ou destino e do volume transportado. E nesse percurso, é essencial que o controle de temperatura, bem como outras características, sejam mantidas, de acordo com o art. 61 da Lei nº 6.360, que dispõe sobre a vigilância a que ficam sujeitos os medicamentos.

Ou seja, as condições ideais de temperatura são um fator fundamental. Para isso, o Manual de Rede de Frio da PNI determina que tanto equipamentos, quanto toda a logística de transporte devem ser monitorados para garantir a máxima eficiência ao longo do percurso.

O Manual também pede atenção aos chamados choques mecânicos, principalmente no transporte rodoviário. Tais impactos podem causar microfissuras, expondo os produtos a vazamentos ou mesmo perda completa.

Complexa distribuição

Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Imunização, uma complexa rede de distribuição é montada para garantir que todas as vacinas cheguem à população final da forma mais rápida e segura possível. Nesse sentido, os materiais são recebidos inicialmente pelo Cenadi (Central Nacional de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos), localizada no Rio de Janeiro.

Da Central Nacional, os produtos são distribuídos para as instâncias estaduais, e destas, para as regionais. Só então os itens são levados até os municípios, que distribuem entre suas salas de vacina dentro de sua Rede Municipal de Saúde.

Em nível municipal, o transporte dos imunobiológicos é feito somente em temperatura positiva. Para isso, são usadas caixas térmicas que devem manter a temperatura de conservação dos imunobiológicos. E isso não descarta o monitoramento contínuo da temperatura no interior das caixas durante todo o processo de transporte até os postos de saúde.

Sistema da qualidade e a Rede de Frio

Todo o processo de transporte dos imunobiológicos do Programa Nacional de Imunização segue um complexo sistema de qualidade. O objetivo é garantir que todas as regras sejam seguidas rigidamente, evitando problemas e descarte de vacina por falha, seja humana ou de tecnologia.

Para isso, são seguidos os conceitos de qualidade na Norma NBR ISO 9000 nos processos de acreditação. São, em tese, os mesmos aplicados aos hospitais e que se referem às boas práticas para os serviços de saúde.

Além disso, todos os imunobiológicos distribuídos pelo PNI passam pelo controle de qualidade exclusivo do INCQS, conforme Resolução RDC n° 73, de 21 de outubro de 2008.

Manutenções preventivas

Outro ponto importante do Manual de Rede de Frio é em relação à manutenção dos equipamentos responsáveis em manter a temperatura dos itens. De acordo com o documento, planejar uma manutenção é a forma mais correta de garantir o máximo de qualidade no armazenamento, sem falhas.

O manual também relata a estratégia usada desde a década de 1990 para que, ao terceirizar a manutenção, seguir a definição do Service Level Agreemente (SLA), que é o Acordo de Nível de Serviço. Por meio dele, chega-se a um contrato formal entre as partes para definição do nível do serviço desejado, onde serão descritos direitos, deveres e obrigações para mensurar o serviço entregue.

Dessa maneira, é possível haver uma padronização em nível nacional da qualidade da manutenção preditiva e preventiva realizada nos equipamentos utilizados na Rede de Frio do PNI.

Equipamentos envolvidos na cadeia

O Manual de Rede de Frio também traz uma lista de equipamentos, que devem ser homologados, para o controle da temperatura ao longo do processo. Eles são:

  • Câmaras refrigeradas que operam na faixa entre +2°C e +8°C
  • Freezers científicos
  • Câmaras fria positivas e negativas
  • Condicionador de ar
  • Gerador de energia para eventuais quedas de energia

Além de seguir os requisitos descritos no Manual, os equipamentos devem passar por manutenção periódica e por calibração.

Já os equipamentos de medição de temperatura também passam por um controle especial, visando a máxima eficiência e confiabilidade. Nesse sentido, é recomendado o uso dos seguintes instrumentos de medição de temperatura:

  • Termômetro de momento, máxima e mínima digital, com cabo extensor
  • Termômetro de infravermelho com mira a laser
  • Data Logger
  • Registrador eletrônico frigorífico
  • Indicador de congelamento

Cada um tem sua funcionalidade e igualmente devem passar por calibrações periódicas para garantir sua eficiência.

A importância do Manual de Rede de Frio

Ao todo, o Manual conta com 138 páginas e está em sua 5ª versão, visando sempre entregar aos responsáveis pela Rede de Frio do Plano Nacional de Imunização informações precisas e atualizadas.

E como foi possível observar, a logística da cadeia do frio é mais complicada do que apenas mover produtos em baixas temperaturas. Deve ser possível rastrear e verificar as condições em que os carregamentos de vacina estão viajando o tempo todo, incluindo o notoriamente problemático quilômetro final.

De acordo com o Centro de Excelência para Validadores Independentes em Logística Farmacêutica da International Air Transport Association (IATA), a logística da cadeia do frio continua sendo um desafio constante para a cadeia de suprimentos de saúde:

  • 25% das vacinas são degradadas quando chegam ao seu destino devido ao “envio incorreto”;
  • 30% dos produtos farmacêuticos que não podem ser usados ​​são descartados especificamente por problemas de logística;
  • 20% dos produtos sensíveis à temperatura são danificados porque a cadeia de frio é interrompida durante o transporte.

Ou seja, mais que apenas manter a temperatura ideal, ela não pode em momento algum sofrer alterações. E caso porventura ocorra um problema, automaticamente os responsáveis devem ser informados, para que o descarte do material seja providenciado da forma correta.

Portanto, fica mais do que clara a importância do Manual de Rede de Frio e do Plano Nacional de Imunização, para a máxima eficiência das ações de erradicação de doenças.

E caso queira saber mais sobre a importância do controle de temperatura de geladeira também em hospitais e clínicas, confira o artigo exclusivo sobre o tema que produzimos no nosso blog.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.