Publicado em 4 novembro 2020 | Atualizado em 2 novembro 2020

A pandemia do coronavírus afetou diretamente a economia do Brasil. Até mesmo o preço dos medicamentos hospitalares sofreu alta, parte pelo aumento da demanda em função das internações causadas pelo Covid-19, parte pela variação cambial no período.

Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), por meio do Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), indicou que apenas entre março e julho, o preço dos medicamentos hospitalares subiu 16,4%.

A pesquisa apontou que a alta foi impulsionada principalmente pelos medicamentos utilizados no suporte aos aparelhos cardiovasculares, com alta de 92,6% no período. Já os medicamentos voltados ao sistema nervoso sofreram aumento de 66% e do aparelho digestivo e metabolismo, a alta foi de 50,4%.

Todos os aumentos foram registrados dentro do período da pesquisa, e envolveram principalmente os remédios ligados ao suporte ventilatório, suporte vital, analgesia e anestesia.

Quais são os medicamentos hospitalares?

Os medicamentos hospitalares são compostos de um total de 13 grupos terapêuticos, seguindo a classificação da ATC (Anatomical Therapeutic Chemical Code) da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Os grupos terapêuticos são:

  • Agentes antineoplásicos;
  • Sangue e órgãos hematopoiéticos;
  • Preparados hormonais sistêmicos;
  • Aparelho respiratório;
  • Imunoterápicos, vacinas a antialérgicos;
  • Aparelho geniturinário e hormônios sexuais;;
  • Órgãos sensitivos;
  • Sistema musculesquelético;
  • Anti-infecciosos gerais para uso sistêmico;
  • Sistema nervoso;
  • Aparelho cardiovascular;
  • Aparelho digestivo e metabolismo;
  • Outros medicamentos.

Por conta do aumento da procura por esse tipo de medicamento, ocorreu um desabastecimento dos insumos no mercado. Como a maior parte da matéria-prima para sua produção é importada, o aumento foi registrado também em função da alta do dólar em relação ao real.

Dificuldades nos hospitais

O aumento do preço dos medicamentos hospitalares representa uma dificuldade extra às instituições de saúde. Como em média os custos com esses insumos representam entre 25% e 35% do orçamento, um aumento como o registrado significa dificuldades orçamentárias, ou então que tal valor deverá ser repassado ao consumidor final.

Além dos medicamentos hospitalares, os EPIs (equipamentos de proteção individual), como máscaras, luvas e aventais, tiveram um aumento. Isso também foi motivado pela maior procura por tais produtos em função do coronavírus.

Máscaras triplas, máscaras N95, luvas de látex, e avental descartável estão entre os itens que mais subiram no período. Por exemplo, um máscara que custava R$ 0,10 antes da pandemia passou a custar R$ 9 a unidade. Já a máscara N95 saltou de R$ 1,82 para R$ 56 cada. E por sua vez, o avental descartável o preço passou de R$ 0,98 para R$ 8 cada.

Da mesma forma, anestésicos e relaxantes musculares, que são administrados a pacientes da UTI ou de centro cirúrgico e que necessitam de intubação, o aumento médio foi de 100% a 300%. Mas, em alguns momentos mais críticos da crise causada pela pandemia, houve até mesmo a falta de tais medicamentos hospitalares em algumas regiões do Brasil.

Levantamento feito pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) junto a 1.500 unidades hospitalares do Brasil apontou que havia falta de medicamentos, ou então sobrepreço de até 287,44% nos insumos.

Cirurgias eletivas

A alta nos preços dos medicamentos hospitalares e dos demais insumos e EPIs usados no dia a dia tem obrigado alguns hospitais inclusive a deixar de realizar cirurgias eletivas. Por exemplo, a Santa Casa de Araraquara deixou de realizar alguns procedimentos devido às dificuldades financeiras.

A dificuldade em adquirir os medicamentos necessários, somada a falta de leitos e a baixa remuneração por parte do SUS (Sistema Único de Saúde), são apontados como responsáveis.

Por que a pandemia aumentou tanto os preços?

De acordo com o levantamento do Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais (IPM-H), entre os fatores que explicam o aumento no preço dos medicamentos hospitalares estão a variação do câmbio e o aumento repentino da demanda.

No primeiro caso, o dólar registrou um aumento de quase 16% entre março e agosto. Isso impactou diretamente na importação de insumos utilizados para a produção de alguns dos medicamentos hospitalares.

Já o aumento na demanda, por conta de um grande aumento nas internações hospitalares em função do Covid-19, fez o mercado aumentar os preços diante da grande procura.

Importante lembrar que o índice IPM-H considera apenas os medicamentos hospitalares, e não os vendidos em farmácias. Com a desaceleração no número de casos, já é possível sentir uma redução nos preços praticados para os insumos hospitalares, já que a demanda por tais medicamentos começa a diminuir.

Incentivo às boas práticas

Ou seja, diante desse aumento no valor dos medicamentos hospitalares e demais insumos usados no dia a dia em hospitais e clínicas médicas, mais do que nunca as boas práticas devem existir. Mas, elas têm como objetivo garantir que não ocorram erros ou desperdício de medicamentos em hospitais, por meio de uma série de protocolos.

Esse aumento também deixa claro a necessidade do Brasil também investir mais na produção interna de medicamentos destinados aos hospitais. Estar dependente de apenas um mercado pode fazer os preços inflacionarem, ou mesmo haver dificuldades em encontrá-los, como ocorreu em alguns momentos no ápice da pandemia.

Portanto, como forma de otimizar os recursos do hospital diante do aumento no preço dos medicamentos hospitalares, é essencial a adoção de boas práticas também na dispensação de remédios. Isso permite ter um maior controle do estoque e evita-se ficar refém das mudanças no mercado externo.

Em nosso blog, temos um artigo exclusivo sobre o tema, que pode lhe ajudar muito nesse momento. Boa leitura!

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.