Publicado em 20 janeiro 2021 | Atualizado em 25 janeiro 2021

Sustentabilidade é uma palavra de ordem no mundo empresarial, mas não foi sempre assim.

Atualmente, a sustentabilidade diz respeito a um conjunto de ações que uma empresa adota, visando a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

A introdução de pequenas modificações na rotina pode contribuir para a preservação ambiental. Além disso, ao se comprometer com a sustentabilidade, a organização agrega valor aos seus processos, conquistando uma posição diferenciada no mercado e atraindo novos clientes.

Conheça a origem do movimento de sustentabilidade e confira algumas formas de incorporar essa tendência à realidade da sua organização de saúde.

Sustentabilidade e organizações sustentáveis

Em abril de 1987, preocupada com o esgotamento dos recursos naturais e a sobrevivência das próximas gerações, a Organização das Nações Unidas (ONU) redigiu um documento intitulado “Nosso Futuro Comum”. Nessa oportunidade, estabeleceu-se o conceito de desenvolvimento sustentável.

De acordo com a ONU, o desenvolvimento sustentável é aquele que satisfaz as demandas atuais, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

Posteriormente, em 1992, a ONU estabeleceu a chamada “Agenda 21”, onde definiu ações prioritárias para a sustentabilidade global. Assim, o futuro do planeta depende da prevenção da poluição da água e do ar e da gestão segura de resíduos gerados.

Até então, as instituições ainda não estavam plenamente conscientes de seu papel. A visão antiga era de que organizações sustentáveis visavam aspectos econômicos para sobreviver no mercado. Nesse contexto, John Elkington, porém, propôs uma visão mais abrangente de sustentabilidade.

Assim emergiu o conceito de Triple Botton Line (TBL), especificamente dedicado a medir a sustentabilidade das organizações. Segundo o TBL, a sustentabilidade é composta pelas dimensões econômica, social e ambiental.

triple botton line

Desse modo, as organizações sustentáveis devem investir em três frentes para obter sucesso e destacar-se em seu ramo de atividade. O foco deverá estar nas pessoas e no seu entorno e o lucro será consequência do bom exercício do seu papel social.

A sustentabilidade nos hospitais: já ouviu falar de green hospitals?

Uma forma de aplicar os princípios do TBL aos hospitais é transformá-lo em uma “organização verde”.

Esse movimento “verde” começou em 1999, com o lançamento dos padrões de Liderança em Energia e Projeto Ambiental (Leadership in Energy and Environmental Design – LEED) para construção de edifícios do U.S. Green Building Council (USGBC).

A certificação LEED é uma forma de destacar as organizações sustentáveis. Nessa mesma linha, surgiu também o LEED for Healthcare, especificamente dedicado aos hospitais sustentáveis, que passaram a ser denominados de green hospitals (traduzido do inglês como ‘hospitais verdes’).

O LEED for Healthcare, então, estabelece padrões de sustentabilidade para os empreendimentos. Seu objetivo é avaliar e certificar organizações sustentáveis do segmento de saúde.

Assim, hospitais com alto grau de desempenho nos padrões LEED for Healthcare são aqueles associados a práticas economicamente viáveis e ambientalmente conscientes. Dessa forma, o hospital verde é aquele que aplica os sete elementos desta iniciativa, a saber:

  • Localização e Acessos;
  • Espaços Sustentáveis;
  • Uso da Água;
  • Energia;
  • Materiais e Recursos;
  • Qualidade dos Ambientes Internos; e
  • Inovação em Projetos.

Desse modo, as organizações sustentáveis devem se preocupar não apenas em reduzir o consumo de energia e água, mas também com a qualidade do ar, da luz, da acústica e do nível de conforto dos usuários em relação à climatização, aos acessos e ao contato com a natureza.

Em resumo, os hospitais verdes se empenham em melhorar a qualidade dos espaços dedicados ao cuidado com a saúde e minimizar o impacto ambiental de suas atividades. Em outras palavras, os hospitais sustentáveis são aqueles que dão respostas a todas essas questões.

As vantagens de se tornar um Hospital Verde

Segundo a Green Hospital Alliance, o custo inicial para implementação de práticas verdes pode ser relativamente alto, mas é possível começar com medidas simples. Além disso, os esforços se converterão em investimento, gerando economia e agregando valor a longo prazo.

Além de beneficiarem o ambiente como um todo, os hospitais verdes também são considerados lugares melhores para trabalhar e seus pacientes apresentam melhores resultados. Dentre as vantagens de se tornar um hospital verde incluem-se:

  • Redução de custos operacionais, devido à diminuição do consumo de água e energia;
  • Melhores resultados junto aos pacientes, por conta de ambientes mais saudáveis, com ar fresco, iluminação natural e uso de materiais atóxicos;
  • Diminuição do período de internação;
  • Melhor controle de infecções;
  • Atração e retenção de funcionários pelo fato de oferecer um ambiente de trabalho mais agradável;
  • Benefícios para a comunidade local, pela redução de impactos ambientais.

Enfim, um hospital verde é aquele que investe em reciclagem, reutilização e redução do consumo, trazendo inúmeros benefícios para a sociedade. Nesse sentido, podem ser aplicados os princípios dos 3Rs.

Os Princípios dos 3Rs

Os princípios dos 3Rs foram introduzidos na Agenda 21 da ONU e se expressam em três ações: reduzir, reutilizar e reciclar. Vejamos mais detalhes sobre cada uma delas.

Reduzir

A redução consiste na etapa principal, pois é a que produz impactos mais positivos para as organizações sustentáveis.

Medidas simples, como a substituição de copos descartáveis por canecas laváveis e a implementação de registros informatizados para abolir o uso de papel podem gerar economia significativa.

Reutilizar

A reutilização pode ser aplicada para certos materiais médico-hospitalares, desde que respeitadas as condições de higienização ou de esterilização recomendadas pelo fabricante.

Com relação ao consumo geral, pode ser citado o papel sulfite. As folhas impressas de um lado podem ser usadas pelo outro lado como rascunho.

Reciclar

A reciclagem é a reintrodução de materiais usados na cadeia produtiva e pode ser aplicada em papéis, plásticos, metais e vidros.

O material orgânico não contaminado também pode ser reciclado depois de passar pelo processo de compostagem e transformado em adubo.

O manejo adequado de tais resíduos por meio de processos de reciclagem permite que sejam comercializados e convertidos em fonte de renda.

Os 3Rs aplicados aos hospitais

Além destes exemplos aplicáveis a qualquer organização sustentável, os 3Rs podem ser adotados em ações específicas para o ramo da saúde. Algumas ações podem contribuir de forma decisiva para incluir os hospitais no rol das organizações sustentáveis.

Sabe-se que organizações de saúde são consumidoras contínuas de energia e água e, portanto, a redução dessa demanda é particularmente interessante. Isso se dá pela substituição de processos por outros mais eficientes, pela reutilização ou, ainda, pela reciclagem de insumos.

Reuso e captação de água de chuva são formas de reaproveitar água para fins não potáveis, como resfriamento e reserva de incêndio. Sistemas de pré-aquecimento da água por energia solar, por sua vez, podem reduzir o consumo de energia elétrica.

O consumo energético pode, ainda, ser reduzido pelo aproveitamento da iluminação e ventilação naturais. O uso de vidros especiais e isolamento térmico, por exemplo, contribuem para o conforto térmico e diminuem a necessidade de utilizar o ar-condicionado.

Outra ação impactante para os hospitais é a redução dos resíduos, já que um terço desse montante é descartado de forma inadequada. Esse cenário poderá mudar fazendo-se a devida segregação e diminuindo o volume de lixo contaminado.

A inovação sustentável pode ser mais simples do que se imagina

Por último, destacamos a importância da inovação sustentável no setor de saúde. Inovação sustentável é aquela em que a melhoria de produtos, serviços ou processos não só melhora o desempenho econômico, como também traz impactos positivos para o meio ambiente e a sociedade.

Inovar não está necessariamente ligado à incorporação de recursos tecnológicos sofisticados. Pode ser mais simples do que se imagina e começar pela revisão de hábitos de consumo.

Escolher produtos orgânicos, reciclados e biodegradáveis é uma forma eficaz de reduzir a contaminação ambiental. Além de preservar o planeta, produtos de limpeza biodegradáveis são mais eficientes, têm rendimento superior e diminuem o risco de alergias, o que gera economia.

Inovar não é só rever o que consumir, mas também o modo de descartar. Os hospitais podem, por exemplo, encaminhar papel usado para reciclagem e material orgânico para compostagem. Pode-se, ainda, estabelecer acordos com a indústria para coletar lâmpadas usadas.

Não faltam também exemplos de tecnologias inovadoras. A instalação de placas para captação de energia solar pode reduzir o consumo energético. Esse sistema pode abranger toda a construção ou apenas pontos específicos, como o aquecimento de água.

Mais de R$ 1 bilhão em medicamentos são desperdiçados anualmente no Brasil. Dentre os motivos estão a falta de fracionamento e o armazenamento inadequado, que comprometem a estabilidade dos produtos. Vale destacar também a má gestão dos estoques.

Para diminuir tanto desperdício já existem diversas soluções logísticas inteligentes. A automação e a informatização melhoram a distribuição e promovem a rastreabilidade dos materiais e medicamentos, além de melhorar o planejamento das aquisições para adquirir somente o necessário.

Hospitais que cuidam do planeta, também cuidam melhor das pessoas

Enfim, vários são os exemplos de ações sustentáveis que os hospitais podem adotar para serem reconhecidos como organizações sustentáveis. Vale destacar que isso só funcionará se os colaboradores estiverem envolvidos e motivados para adotar hábitos de consumo mais consciente.

Assim, os hospitais verdes contribuirão não só para a saúde das pessoas, como também para a saúde dos colaboradores e do planeta como um todo.

Vale a pena investir na preservação ambiental, pois hospitais que promovem a reciclagem, redução e reutilização tornam o ambiente mais agradável e atraem novos clientes. No final, tudo isso também se reverte em lucro e, consequentemente, em sustentabilidade econômica.

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Márcia Rodriguez Vásquez Pauferro

Farmacêutica Hospitalar

Farmacêutica formada pela USP, especialista em Farmácia Hospitalar e Qualidade e Segurança no Cuidado ao Paciente, Mestre em Bioética.