A desigualdade social é um fator debilitante em qualquer comunidade. E, assim como afeta o padrão de vida das pessoas e a atenção dedicada aos cuidados mais básicos dos indivíduos, ocorre uma disparidade na saúde que não pode ser ignorada.
O acesso à saúde é um problema que afeta não apenas os países em desenvolvimento, mas nações tidas como superpotências. É o caso dos EUA, que já vem relatando estudos cujos prejuízos são calculados aos montes em decorrência da desigualdade social.
Em 2011, um estudo foi conduzido e mostrou que os custos no setor teriam uma economia anual de US$ 15,6 bilhões se não houvesse essa disparidade na saúde. Isso ocorreu por conta da análise de que certas doenças (como diabetes, hipertensão, derrame, entre outras) não afetariam as camadas mais carentes da sociedade se elas tivessem o mesmo acesso à saúde do que os cidadãos com mais poder aquisitivo.
No Brasil não é diferente. O baixo investimento — apenas 10,7% do orçamento total dos governos — no setor é um grande contraste com a necessidade de uso do sistema público de saúde do país, o SUS.
Pesquisa aponta que sete em cada dez brasileiros usam o SUS, e o país ainda acumula uma carência com cerca de 30 milhões de pessoas sem acesso à saúde.
Há, portanto, uma disparidade na saúde que pode e deve ser analisada com base nos desafios, seus impactos e as soluções para reduzi-la gradualmente.
O que é a disparidade na saúde?
O conceito está atrelado às diferenças sociais que dificultam o acesso à saúde para grupos que convivem em um mesmo meio. A disparidade pode ocorrer dentro de diversos fatores, como:
- raça/etnia;
- status socioeconômico;
- idade;
- local de residência;
- gênero;
- características físicas;
- orientação sexual.
Imagine, por exemplo, que um país tenha erradicado quase por completo uma doença específica, mas focos dela ainda são percebidos — acontece que, exclusivamente, em áreas periféricas e com prevalência de cidadãos de baixa renda.
Esse é um bom caso a ser observado, embora os fatores que ocasionam e reforçam esse contraste também são os mais diversos possíveis (como a oferta de serviços e profissionais de saúde ou mesmo questões que envolvem o meio onde as pessoas estão inseridas — como áreas de risco).
Por que isso é um problema a ser resolvido imediatamente?
Do ponto de vista social, é um grande problema. Afinal de contas, o acesso à saúde, dessa forma, é limitado e bastante seletivo. No entanto, podemos observar a mesma questão sob um prisma do próprio mercado.
Pois ninguém ganha com a disparidade na saúde. Quanto mais pessoas necessitarem desse serviço essencial, mais profissionais qualificados podem ser formados e agregar ao setor. É um fator debilitante, portanto, para quem gere e movimenta a área da saúde no geral.
E é também relevante dar nome a esse problema porque permite que sejam evidenciados outras situações igualmente prejudiciais. Nos EUA, por exemplo, existem custos excedentes estimados na casa dos US$ 90 bilhões só por conta da disparidade na saúde. É um exemplo a ser observado quando negros e hispânicos têm menos acesso à saúde, no país, e estão sujeitos a problemas cujas gravidades evoluem em decorrência dessa falta de atenção do setor às camadas menos favorecidas, economicamente, da sociedade.
Por isso, ao endereçar a disparidade, profissionais de saúde conseguem concentrar com mais precisão os esforços para reduzir a desigualdade e solucionar o problema gradativamente.
Quais são as iniciativas para minimizar a desigualdade social na saúde?
A tecnologia tem se mostrado um dos grandes avanços para minimizar essa questão social e que também alcança a área da saúde. Gastos em TI vão crescer 6,2% em 2021, por exemplo, reforçando que o mundo inteiro está de olho em soluções proporcionadas pelos produtos digitais.
Nesse sentido, o uso de dados é um caminho já pavimentado para minimizar essa discrepância social no setor. Antes, é claro, tem que existir um alinhamento para pensar o acesso à saúde como algo coletivo, e não pontual.
Isso porque, com o uso ético de dados dos pacientes e em integração com outras pesquisas, informações e estudos sociais, é possível avaliar certos impactos de determinadas condições e planejar soluções de maneira mais precisa, ágil e assertiva.
Um exemplo: imagine que em uma região periférica do Brasil um problema agravante acometa apenas essa área, em particular. Isso pode ser diagnosticado pela coleta de dados e a integração de soluções que vão ajudar a perceber que, ali, existe uma situação de contraste social.
Então, a disparidade na saúde pode ser reduzida a partir dessa visão holística (ainda que bem direcionada) de comorbidades e doenças que estejam afligindo apenas uma parte da população — uma determinada minoria que, nesse caso, sofra mais do que pessoas com maior poder aquisitivo na mesma região, inclusive.
Outra saída é a integração de informações de maneira nacional — ou estadual ou municipal, o que fizer mais sentido para a análise — para entender quais são os maiores problemas que as pessoas com dificuldade ao acesso à saúde enfrentam e que, em teoria, estão “sob controle”. O diabetes é um bom exemplo. Em áreas onde não existem informações ou campanhas sobre a conscientização, a prevenção e o tratamento da doença, os casos saem mais facilmente do controle das pessoas, que sofrem mais com uma condição que, hoje em dia, já dispõe de diversos meios de minimizar os seus efeitos.
O que já existe em aplicação?
O processo de vacinação é outro exemplo que merece menção (especialmente, neste momento de pandemia) e que pode reduzir a disparidade na saúde por conta do acesso a determinados dados dos pacientes.
Campanhas mais eficientes, precisas e direcionadas podem ser feitas com o uso dessas informações — seja dos pacientes, dados demográficos, entre outros. O que poderia contribuir com a erradicação de doenças que ainda afetam locais e comunidades em função dos contrastes sociais.
Por fim, podemos destacar ideias que já vêm sendo aplicadas com sucesso. É o caso da telemedicina — que ganhou um reforço significativo com a necessidade criada em decorrência da pandemia do coronavírus.
Mas avanços relevantes já podem ser observados nesse sentido. Um caso evidente é o aumento exponencial no número de prescrições médicas digitais, ao longo de 2020.
E quais são os desafios para reduzir a desigualdade no acesso à saúde?
Em contraste, a disparidade na saúde se torna um desafio porque, ao menos no Brasil, não existe um direcionamento claro para enfrentar a questão. Não há sequer um posicionamento claro sobre o tema. Então, devemos dar um passo atrás para pensar em soluções.
Políticas públicas devem permear o aspecto social, primeiramente, e da maneira como vimos ao longo do artigo: enxergando e endereçando as diferenças. E a partir delas, focar em soluções pontuais de acordo com as necessidades de cada região e grupos de pessoas até que, gradualmente, o acesso e a distribuição de bens e serviços se tornem mais igualitários.
Um exemplo de solução que pode ajudar a decifrar esse desafio é o uso da recém-aprovada Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Nesse quesito, estamos falando, ainda, de um terreno pouco explorado e no qual todo o país, como um todo, avança com bastante cuidado.
Só que essa cautela se mostra um obstáculo, de certa forma. Afinal, ainda é pouco evidente quais medidas podem ser tomadas — e de qual forma — para fazer uso ético e estratégico dos dados dos pacientes. No entanto, são esses dados personalizados que podem nortear a disparidade a fim de construirmos soluções específicas. Mapear onde está o problema e dar nome aos desafios, um a um.
É possível reduzir a disparidade na saúde, embora os fatores que levam a ela em qualquer país tenha diferentes origens. Mas já é perceptível que o caminho vai passar, invariavelmente, pelo uso consciente, ético e fortalecido da tecnologia.
Uma boa maneira de entender isso é por meio da leitura de outro artigo nosso. Veja, agora, quais são os princípios e diretrizes do atendimento primário à saúde e como esse trabalho pode ser otimizado com uma boa gestão amparada por soluções tecnológicas!