O mercado de tecnologia em saúde está em constante expansão. Com isso, a engenharia clínica se torna cada vez mais presente e necessária nas instituições de saúde.
Surgida na década de 1960, com foco na segurança de equipamentos por conta do grande número de mortes relacionadas à choques elétricos, essa área ganhou mais espaço ao longo dos anos. Do gerenciamento de riscos, passando pelo aumento da produtividade e diminuição dos custos, até a preocupação com a satisfação do paciente.
Mas as mudanças ocorridas no setor de saúde nas últimas décadas criaram um cenário ainda mais favorável. Os rápidos avanços no desenvolvimento de soluções e equipamentos médicos, tornou o acompanhamento dessa evolução por parte das equipes médica e de enfermagem bastante complexo.
Desse modo, a prática da medicina aliada à operação de máquinas e sistemas criou a necessidade de agregar mais um profissional à equipe de saúde: o engenheiro clínico.
Portanto, a engenharia clínica está no centro das operações de atendimento e gestão em saúde, tendo como pontos de contato:
- vendedores de equipamentos e tecnologias;
- enfermagem;
- equipe médica;
- administração do hospital;
- agências reguladoras;
- pacientes.
Essa centralização no trabalho do engenheiro clínico demonstra o grau de importância de sua função. Em face da necessidade de operações técnicas adequadas na saúde, é sobre esse desempenho e atuação que trataremos a seguir. Acompanhe!
Engenharia clínica: áreas de atuação e atribuições
Até algum tempo, os processos relacionados ao conserto e manutenção de equipamentos eram geridos por empresas terceirizadas ou pela enfermagem. Hoje esse trabalho compete à engenharia clínica. Seja no gerenciamento, operacionalização e controle de máquinas e sistemas e tudo que se refere a gestão de tecnologias.
No entanto, a atuação pode ocorrer em várias frentes, não se limitando às atividades operacionais. Assim, o mercado está aberto a partir das seguintes instituições:
- hospitais;
- clínicas de diagnóstico por imagem;
- laboratórios de análises clínicas;
- empresas terceirizadas;
- consultoria especializada;
- pesquisa acadêmica;
- empresas de healthtech.
Entre as várias atribuições dessa especialidade, está a montagem, supervisão e suporte de equipamentos em cirurgias e diagnósticos. E também a gestão de custos e planejamento estratégico do setor.
Num cenário ideal, por trás de cada equipamento eletrônico dentro de hospital, deveria estar um profissional de engenharia clínica. Seu papel, entre outros, é apoiar a equipe médica no atendimento ao paciente, através do controle técnico e de manutenção.
Contudo, esse trabalho exige mais competências aplicadas do que uma profissão definida. Afinal, toda a tecnologia aplicada à assistência médica depende das habilidades de gerenciamento e conhecimento técnico atribuído ao engenheiro clínico.
Principais regulações do setor
No Brasil, as atividades de engenharia são regulamentadas pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura – CONFEA. De acordo com a Resolução nº 218/73, apesar de não constar no documento as atividades expressas do engenheiro clínico, algumas atividades valem para esse profissional, como:
- Supervisão, coordenação e orientação técnica;
- Estudo, planejamento, projeto e especificação;
- Padronização, mensuração e controle de qualidade;
- Condução de equipe de desinstalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;
- Operação e manutenção de equipamento e instalação.
Nesse sentido, órgãos regulamentadores, como a Anvisa, trabalham para estabelecer normas e regulações na área da engenharia clínica. Um exemplo é o gerenciamento de tecnologias em saúde, aplicado através da RDC nº 2/2010.
Criada para estabelecer critérios de qualidade e segurança nas instituições hospitalares, a resolução reforça, ainda que indiretamente, o papel do engenheiro. Pois é ele, afinal, o profissional mais capacitado para colocar em prática as exigências trazidas pela legislação.
Outro órgão que atua na regulamentação das atividades relacionadas à engenharia clínica é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Através das NBR IEC 601-1 e NBR IEC 601-2, os equipamentos eletromédicos passam a ser normatizados. Com isso, demonstra-se a necessidade de um engenheiro clínico para o uso correto desses recursos.
Funções do engenheiro clínico no ambiente hospitalar
De acordo com as atribuições do engenheiro clínico, podemos destacar algumas funções desse profissional, especialmente em hospitais. Vejamos:
Manutenção corretivas e preventiva dos equipamentos
Dentro de um hospital, a manutenção preventiva é de extrema importância para a segurança dos pacientes e profissionais. Ela, inclusive, é primordial para uma gestão hospitalar eficiente.
Isso sem contar que, financeiramente, equipamentos parados por falta de manutenção significam prejuízos para a instituição.
Assim, o engenheiro clínico atua como responsável pela prevenção de falhas, e também nas ações de correção, caso haja quebra de algum equipamento.
O trabalho desse profissional facilita as tomadas de decisão, pois é baseado em conhecimento técnico. Contudo, o desenvolvimento de políticas internas de manutenção também pode ser tarefa para o setor de engenharia clínica.
Além disso, é possível eliminar ou reduzir exponencialmente os riscos e falhas na operação de equipamentos hospitalares. Através da elaboração de cronogramas de manutenção, o engenheiro clínico contribui significativa e diretamente para o sucesso dos tratamentos.
Capacitação de funcionários
Capacitar e treinar os demais colaboradores para a utilização de ferramentas e equipamentos é uma das funções do engenheiro clínico dentro de um hospital. Afinal, ele é quem detém o conhecimento técnico necessário para instruir a equipe de saúde.
Auxílio na aquisição de equipamentos hospitalares
Dentro da gestão hospitalar, a presença da engenharia clínica pode facilitar bastante os processos de compra e aquisição de equipamentos.
A partir da compreensão das necessidade e demanda da instituição, a orientação de um técnico pode evitar desperdício de recursos. Essa é uma grande vantagem para hospitais, uma vez que o engenheiro clínico ajuda a planejar, orçar e gerenciar contratos e operações internas.
Implementação de novas tecnologias
A adoção de sistemas e novas tecnologias aplicadas ao setor de saúde está intimamente relacionada ao trabalho do engenheiro clínico.
A esse profissional, cabe estar atualizado sobre descobertas e atualizações que contribuam para o atendimento hospitalar. Desse modo, a engenharia clínica funciona como guia para a melhoria na qualidade dos processos.
Otimizando o atendimento da demanda com recursos tecnológicos, a instituição ganha em produtividade e reconhecimento.
Como mensurar a performance da engenharia clínica nas instituições de saúde
O ambiente hospitalar é complexo e diverso. Profissionais de diferentes áreas dentro da saúde, protocolos, sistemas e máquinas convergem num mesmo objetivo: o atendimento ao paciente. Nesse sentido, a segurança e a eficácia do tratamento são a base de qualquer atividade do setor.
Com isso, a engenharia clínica se mostra fundamental para o funcionamento das instituições que visam melhorar seu desempenho e posicionamento no mercado.
Afinal, gerir um parque tecnológico com o nível de complexidade encontrado nos hospitais exige conhecimentos específicos. Desse modo, o aproveitamento dos recursos se torna mais eficiente com a presença de profissionais técnicos capacitados.
Isso sem contar o auxílio prestado por essa especialidade no descarte de equipamentos, em tempos onde as questões ambientais são de extrema relevância para a sociedade. E não seria diferente com as instituições de saúde.
Por isso, contar com o trabalho do engenheiro clínico é um diferencial para qualquer instituição hospitalar. Seja no auxílio na tomada de decisões ou no trabalho operacional com máquinas e equipamentos.
Mas como mensurar a performance nessa área? Conforme documento publicado pela Anvisa, existem ao menos nove indicadores de desempenho. São eles:
- Custo de um equipamento parado
- Percentagem de conclusão do programa de manutenção
- Tempo de resposta
- Custo de manutenção versus valor do equipamento
- Reparos repetidos
- Tempo médio de retorno
- Número de ordens de serviço por setor do hospital
- Horas produtivas por horas disponíveis
- Custo diário de um leito parado
Assim, os indicadores são resumidos em três grupos: temporais; de qualidade; de custo.
Contudo, a adoção dos indicadores de desempenho da engenharia clínica pode ser feita por duas vias. Com a contratação do técnico, que passa a ser funcionário da instituição, ou por meio de empresas especializadas, com a terceirização do serviço.
Benefícios da implementação do setor de engenharia
Mesmo com os custos de implementação da engenharia clínica, existem muitos benefícios trazidos com o investimento. Alguns, como segurança, qualidade da assistência e melhora na imagem da instituição dificilmente podem ser medidos.
Porém, podemos resumir os benefícios trazidos pelo setor de engenharia do seguinte modo:
- redução de gastos com manutenção;
- diminuição do tempo de ociosidade dos equipamentos;
- avaliação da conformidade dos orçamentos;
- melhor controle das empresas prestadoras de serviço e consequente melhoria de qualidade;
- equipe médica, enfermeiros e demais profissionais da saúde passam a executar suas funções principais com maior tempo hábil;
- treinamento constante dos operadores;
- otimização da compra de máquinas e equipamentos;
- melhor elaboração e controle dos contratos de manutenção;
- maior qualidade técnica dos equipamentos;
- melhorias garantidas a partir da validação e auditoria dos indicadores.
Impactos na área financeira
Um dos principais entraves para a ampliação dos investimentos em tecnologia no setor de saúde é a preocupação com as finanças. Todavia, quando os recursos são bem utilizados, a saúde financeira da instituição é preservada.
Nesse sentido, a engenharia clínica permite que tais investimentos sejam controlados e melhor direcionados. Da mesma forma, é possível planejar os custos de manutenção, evitando gastos indesejados.
Afinal, para que haja excelência no atendimento hospitalar, não basta apenas possuir um ótimo quadro de médicos e outros especialista. É preciso controlar os ativos, maximizando os benefícios e entregando ao paciente um tratamento de ponta.