Publicado em 24 junho 2020 | Atualizado em 3 junho 2021

O mercado de tecnologia em saúde está em constante expansão. Com isso, a engenharia clínica se torna cada vez mais presente e necessária nas instituições de saúde.

Surgida na década de 1960, com foco na segurança de equipamentos por conta do grande número de mortes relacionadas à choques elétricos, essa área ganhou mais espaço ao longo dos anos. Do gerenciamento de riscos, passando pelo aumento da produtividade e diminuição dos custos, até a preocupação com a satisfação do paciente.

Mas as mudanças ocorridas no setor de saúde nas últimas décadas criaram um cenário ainda mais favorável. Os rápidos avanços no desenvolvimento de soluções e equipamentos médicos, tornou o acompanhamento dessa evolução por parte das equipes médica e de enfermagem bastante complexo.

Desse modo, a prática da medicina aliada à operação de máquinas e sistemas criou a necessidade de agregar mais um profissional à equipe de saúde: o engenheiro clínico.

Portanto, a engenharia clínica está no centro das operações de atendimento e gestão em saúde, tendo como pontos de contato:

  • vendedores de equipamentos e tecnologias;
  • enfermagem;
  • equipe médica;
  • administração do hospital;
  • agências reguladoras;
  • pacientes.

Essa centralização no trabalho do engenheiro clínico demonstra o grau de importância de sua função. Em face da necessidade de operações técnicas adequadas na saúde, é sobre esse desempenho e atuação que trataremos a seguir. Acompanhe!

Engenharia clínica: áreas de atuação e atribuições

Até algum tempo, os processos relacionados ao conserto e manutenção de equipamentos eram geridos por empresas terceirizadas ou pela enfermagem. Hoje esse trabalho compete à engenharia clínica. Seja no gerenciamento, operacionalização e controle de máquinas e sistemas e tudo que se refere a gestão de tecnologias.

No entanto, a atuação pode ocorrer em várias frentes, não se limitando às atividades operacionais. Assim, o mercado está aberto a partir das seguintes instituições:

  • hospitais;
  • clínicas de diagnóstico por imagem;
  • laboratórios de análises clínicas;
  • empresas terceirizadas;
  • consultoria especializada;
  • pesquisa acadêmica;
  • empresas de healthtech.

Entre as várias atribuições dessa especialidade, está a montagem, supervisão e suporte de equipamentos em cirurgias e diagnósticos. E também a gestão de custos e planejamento estratégico do setor.

Num cenário ideal, por trás de cada equipamento eletrônico dentro de hospital, deveria estar um profissional de engenharia clínica. Seu papel, entre outros, é apoiar a equipe médica no atendimento ao paciente, através do controle técnico e de manutenção.

Contudo, esse trabalho exige mais competências aplicadas do que uma profissão definida. Afinal, toda a tecnologia aplicada à assistência médica depende das habilidades de gerenciamento e conhecimento técnico atribuído ao engenheiro clínico.

Principais regulações do setor

No Brasil, as atividades de engenharia são regulamentadas pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura – CONFEA. De acordo com a Resolução nº 218/73, apesar de não constar no documento as atividades expressas do engenheiro clínico, algumas atividades valem para esse profissional, como:

  • Supervisão, coordenação e orientação técnica;
  • Estudo, planejamento, projeto e especificação;
  • Padronização, mensuração e controle de qualidade;
  • Condução de equipe de desinstalação, montagem, operação, reparo ou manutenção;
  • Operação e manutenção de equipamento e instalação.

Nesse sentido, órgãos regulamentadores, como a Anvisa, trabalham para estabelecer normas e regulações na área da engenharia clínica. Um exemplo é o gerenciamento de tecnologias em saúde, aplicado através da RDC nº 2/2010.

Criada para estabelecer critérios de qualidade e segurança nas instituições hospitalares, a resolução reforça, ainda que indiretamente, o papel do engenheiro. Pois é ele, afinal, o profissional mais capacitado para colocar em prática as exigências trazidas pela legislação.

Outro órgão que atua na regulamentação das atividades relacionadas à engenharia clínica é a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Através das NBR IEC 601-1 e NBR IEC 601-2, os equipamentos eletromédicos passam a ser normatizados. Com isso, demonstra-se a necessidade de um engenheiro clínico para o uso correto desses recursos.

Funções do engenheiro clínico no ambiente hospitalar

De acordo com as atribuições do engenheiro clínico, podemos destacar algumas funções desse profissional, especialmente em hospitais. Vejamos:

Manutenção corretivas e preventiva dos equipamentos

Dentro de um hospital, a manutenção preventiva é de extrema importância para a segurança dos pacientes e profissionais. Ela, inclusive, é primordial para uma gestão hospitalar eficiente.

Isso sem contar que, financeiramente, equipamentos parados por falta de manutenção significam prejuízos para a instituição.
Assim, o engenheiro clínico atua como responsável pela prevenção de falhas, e também nas ações de correção, caso haja quebra de algum equipamento.

O trabalho desse profissional facilita as tomadas de decisão, pois é baseado em conhecimento técnico. Contudo, o desenvolvimento de políticas internas de manutenção também pode ser tarefa para o setor de engenharia clínica.

Além disso, é possível eliminar ou reduzir exponencialmente os riscos e falhas na operação de equipamentos hospitalares. Através da elaboração de cronogramas de manutenção, o engenheiro clínico contribui significativa e diretamente para o sucesso dos tratamentos.

Capacitação de funcionários

Capacitar e treinar os demais colaboradores para a utilização de ferramentas e equipamentos é uma das funções do engenheiro clínico dentro de um hospital. Afinal, ele é quem detém o conhecimento técnico necessário para instruir a equipe de saúde.

Auxílio na aquisição de equipamentos hospitalares

Dentro da gestão hospitalar, a presença da engenharia clínica pode facilitar bastante os processos de compra e aquisição de equipamentos.

A partir da compreensão das necessidade e demanda da instituição, a orientação de um técnico pode evitar desperdício de recursos. Essa é uma grande vantagem para hospitais, uma vez que o engenheiro clínico ajuda a planejar, orçar e gerenciar contratos e operações internas.

Implementação de novas tecnologias

A adoção de sistemas e novas tecnologias aplicadas ao setor de saúde está intimamente relacionada ao trabalho do engenheiro clínico.

A esse profissional, cabe estar atualizado sobre descobertas e atualizações que contribuam para o atendimento hospitalar. Desse modo, a engenharia clínica funciona como guia para a melhoria na qualidade dos processos.

Otimizando o atendimento da demanda com recursos tecnológicos, a instituição ganha em produtividade e reconhecimento.

Como mensurar a performance da engenharia clínica nas instituições de saúde

O ambiente hospitalar é complexo e diverso. Profissionais de diferentes áreas dentro da saúde, protocolos, sistemas e máquinas convergem num mesmo objetivo: o atendimento ao paciente. Nesse sentido, a segurança e a eficácia do tratamento são a base de qualquer atividade do setor.

Com isso, a engenharia clínica se mostra fundamental para o funcionamento das instituições que visam melhorar seu desempenho e posicionamento no mercado.

Afinal, gerir um parque tecnológico com o nível de complexidade encontrado nos hospitais exige conhecimentos específicos. Desse modo, o aproveitamento dos recursos se torna mais eficiente com a presença de profissionais técnicos capacitados.

Isso sem contar o auxílio prestado por essa especialidade no descarte de equipamentos, em tempos onde as questões ambientais são de extrema relevância para a sociedade. E não seria diferente com as instituições de saúde.

Por isso, contar com o trabalho do engenheiro clínico é um diferencial para qualquer instituição hospitalar. Seja no auxílio na tomada de decisões ou no trabalho operacional com máquinas e equipamentos.

Mas como mensurar a performance nessa área? Conforme documento publicado pela Anvisa, existem ao menos nove indicadores de desempenho. São eles:

  1. Custo de um equipamento parado
  2. Percentagem de conclusão do programa de manutenção
  3. Tempo de resposta
  4. Custo de manutenção versus valor do equipamento
  5. Reparos repetidos
  6. Tempo médio de retorno
  7. Número de ordens de serviço por setor do hospital
  8. Horas produtivas por horas disponíveis
  9. Custo diário de um leito parado

Assim, os indicadores são resumidos em três grupos: temporais; de qualidade; de custo.

Contudo, a adoção dos indicadores de desempenho da engenharia clínica pode ser feita por duas vias. Com a contratação do técnico, que passa a ser funcionário da instituição, ou por meio de empresas especializadas, com a terceirização do serviço.

Benefícios da implementação do setor de engenharia

Mesmo com os custos de implementação da engenharia clínica, existem muitos benefícios trazidos com o investimento. Alguns, como segurança, qualidade da assistência e melhora na imagem da instituição dificilmente podem ser medidos.

Porém, podemos resumir os benefícios trazidos pelo setor de engenharia do seguinte modo:

  • redução de gastos com manutenção;
  • diminuição do tempo de ociosidade dos equipamentos;
  • avaliação da conformidade dos orçamentos;
  • melhor controle das empresas prestadoras de serviço e consequente melhoria de qualidade;
  • equipe médica, enfermeiros e demais profissionais da saúde passam a executar suas funções principais com maior tempo hábil;
  • treinamento constante dos operadores;
  • otimização da compra de máquinas e equipamentos;
  • melhor elaboração e controle dos contratos de manutenção;
  • maior qualidade técnica dos equipamentos;
  • melhorias garantidas a partir da validação e auditoria dos indicadores.

Impactos na área financeira

Um dos principais entraves para a ampliação dos investimentos em tecnologia no setor de saúde é a preocupação com as finanças. Todavia, quando os recursos são bem utilizados, a saúde financeira da instituição é preservada.

Nesse sentido, a engenharia clínica permite que tais investimentos sejam controlados e melhor direcionados. Da mesma forma, é possível planejar os custos de manutenção, evitando gastos indesejados.

Afinal, para que haja excelência no atendimento hospitalar, não basta apenas possuir um ótimo quadro de médicos e outros especialista. É preciso controlar os ativos, maximizando os benefícios e entregando ao paciente um tratamento de ponta.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.