Publicado em 3 março 2021 | Atualizado em 19 fevereiro 2021

A cadeia de suprimentos constitui um processo fundamental para o setor de saúde. Especialmente porque o mau gerenciamento pode levar à escassez de medicamentos e outros insumos elementares para o cuidado com o paciente, tanto de forma direta quanto indireta.

A exemplo das notícias que mostram toda a crise gerada pela pandemia de COVID-19, onde medicamentos anestésicos e até oxigênio têm faltado para atender pacientes em UTI, fica fácil perceber o impacto da gestão de suprimentos na regulação do fluxo entre produtos e serviços médicos.

Desde a fabricação até o momento da dispensação ao paciente, esse fluxo envolve inúmeros fatores, personagens e fragmentos. Ambos igualmente importantes e necessários, mas que tornam todo o processo extremamente complexo por natureza.

Portanto, as estratégias aplicadas para tornar a cadeia de suprimentos mais eficiente vão além das práticas de gerenciamento corretas. Elas envolvem toda a gestão em saúde, passando por transporte, treinamento de pessoal e muito mais.

Nesse sentido, contar com profissionais qualificados e dedicados a prestar o melhor atendimento em saúde não basta. É necessário que haja um suporte adequado de equipamentos e abastecimento de insumos – sobretudo medicamentos – para garantir os recursos necessários à realização do trabalho.

Isso inclui desde os recursos básicos para aquisição, passando pela negociação com fornecedores e culminando nos processos internos de planejamento, armazenamento e controle de estoque dos insumos.

Como evitar a escassez na cadeia de suprimentos?

A cadeia de suprimentos em saúde passa por diversas etapas. Ela tem início no fabricante, de onde posteriormente os insumos saem para um centro de distribuição. A depender do tipo de produto, o hospital ou clínica pode adquirir seu estoque diretamente da fábrica. Ou ter que negociar com o distribuidor.

Existem ainda organizações de intermédio, responsáveis pela compra de grandes lotes em nome de um grupo, que depois dividem o pedido para cada instituição que o integra. Assim, ao chegar no hospital, os insumos – dos mais diversos tipos e para todas as finalidades imagináveis – são distribuídos internamente, conforme solicitado por cada setor.

Nesse processo, a gestão de compras hospitalares exerce um papel de protagonista durante o gerenciamento da cadeia de suprimentos. Inclusive podendo evitar a escassez de medicamentos e outros produtos através da aplicação de estratégias eficientes.

Todavia, existem outros atores envolvidos na tarefa de melhorar o fluxo de suprimentos, reduzindo custos e otimizando os recursos necessários para que não haja desperdício. E, claro, para que não resulte em escassez, comprometendo o atendimento e o resultados dos tratamentos.

Vejamos a seguir algumas formas de evitar falta de insumos e medicamentos através de uma gestão eficiente:

Implementação da análise de dados

Especialistas em Tecnologia da Informação no setor de saúde afirmam que a cadeia de suprimentos pode ser considerada o ativo mais valioso para coleta e preparação de dados, inclusive ultrapassando os registros eletrônicos de saúde (EHR).

Desse modo, a adoção de sistemas de gestão como os ERPs, que permitem o planejamento de recursos e, consequentemente, a análise dos dados de custos, tende a contribuir significativamente para a redução da escassez.

Afinal, com a captura de dados ao longo da cadeia de suprimentos, é possível obter indicadores precisos de necessidade de um produto. Isso ajuda a reduzir desperdícios, identificar períodos críticos e criar um estoque mais estável.

Análise de criticidade e gerenciamento de riscos

Realizar uma análise de criticidade dos processos em toda a instituição de saúde também passa pelo controle de estoques. A partir dessa ação, é possível identificar os pontos mais críticos da operação, resultando na redução de perdas provenientes de falhas na gestão de suprimentos.

Posteriormente, o gerenciamento de riscos é capaz de identificar, avaliar e promover medidas que evitem os riscos, incluindo o desperdício de medicamentos e a escassez desses e de outros insumos.

Assim, ao analisar a criticidade e gerenciar os riscos, é possível observar diferentes dimensões da cadeia de suprimentos, como:

  • capacidade x demanda;
  • infraestrutura de armazenamento;
  • rede de distribuição.

Dessa forma, ao fazer o mapeamento dos pontos críticos, é possível identificar a melhor solução. Talvez haja a necessidade de investimentos em tecnologia, aquisição de equipamentos, contratação de pessoal. Ou mesmo a qualificação de fornecedores, que pode melhorar a manutenção dos estoques e dar uma resposta mais rápida em momentos de crise.

Trabalhar a cultura de preferências médicas

Um dos fatores que podem afetar a cadeia de suprimentos e influenciar na escassez de alguns medicamentos em detrimento de outros, está ligado às preferências de médicos e cirurgiões quanto aos produtos que utilizam.

Essa prática, por influenciar as decisões de compra, pode elevar os custos. O que, muitas vezes, tende a comprometer o orçamento da instituição. Contudo, também vale observar de que modo essa cultura de preferências tende a contribuir para o gerenciamento dos suprimentos hospitalares.

Assim, é importante observar a necessidade de um controle maior sobre as informações, mantendo um inventário atualizado dessas preferências. Isso é fundamental para que não haja um uso ineficiente de medicamentos.

No entanto, como pode haver resistência da parte de alguns profissionais em mudar suas preferências, vale demonstrar como elas podem ser vinculadas aos resultados, mas também aos custos por paciente. A partir dessa demonstração, pode ser que haja maior adesão do médico na implementação de melhorias e práticas que otimizem a cadeia de suprimentos.

Desafios do gerenciamento diante de cenários críticos

O gerenciamento eficiente da cadeia de suprimentos já é naturalmente desafiador. Diante de um cenário crítico, como o exemplo citado sobre a pandemia do coronavírus, os desafios ficam ainda mais presentes, aumentando a necessidade de desenvolver estratégias para otimizar o processo.

Em períodos normais, gestores em saúde trabalham constantemente para o aumento da produtividade e para a redução dos custos. Em momentos de crise, esses custos podem se tornar exponencialmente maiores, visto que a demanda se torna maior que a oferta.

Contudo, para os hospitais, além dos custos elevados, também existe o desafio de alinhar a cadeia de suprimentos com a prestação de cuidados. Isso significa, a partir de uma abordagem mais holística, aumentar a qualidade nos serviços, de modo que a experiência do paciente seja priorizada.

Portanto, o gerenciamento da cadeia de suprimentos em momentos críticos torna-se mais desafiador diante da necessidade de manter a continuidade do atendimento, sempre com o foco na redução do tempo de espera do paciente e dos custos menores.

Ao imaginar um cenário onde há escassez de um medicamento ou produto essencial para o tratamento, é nítido que a organização prévia é um dos fatores que pode contribuir para o enfrentamento do problema.

Um outro aspecto, igualmente importante, está no envolvimento dos órgãos reguladores e das operadoras de saúde. Os primeiros determinam as boas práticas de gestão, que são essenciais para o desenvolvimento da atividade médica, e devem ser seguidas à risca.

As operadoras, por sua vez, são responsáveis por determinar os recursos disponíveis a partir do pagamento e reembolso correto, atuando de forma humanizada com o paciente.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.