O trabalho com medicamentos quimioterápicos, também chamados antineoplásicos, requer atenção extra por parte dos profissionais envolvidos. Inclusive em questões relacionadas à farmacovigilância. Isso porque o manuseio de medicamentos desse tipo, quando feito sem precaução, pode representar um risco à saúde.
No entanto, o tratamento oncológico pode significar a única chance de sobrevivência para milhares de pessoas em todo o mundo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 7 milhões de pessoas morrem anualmente por causa do câncer. Destas, mais da metade possui idade entre 30 e 69 anos.
Somente no ano de 2018, foram registrados no Brasil mais de 224 mil óbitos por câncer. Os dados do Inca mostram que a maioria das mortes é de homens. E a ocorrência principal é de tumores primários em traqueia, brônquios e pulmões, seguido de próstata e, em terceiro lugar, cólon e reto. Nas mulheres, prevalecem os tumores de mama como principal causa de morte por câncer.
Todavia, o que esses dados demonstram é a fundamentalidade dos medicamentos quimioterápicos. E o quanto a segurança no manuseio dessas substâncias é primordial, tanto para pacientes quanto para os profissionais de saúde envolvidos.
Por que medicamentos quimioterápicos são nocivos?
A quimioterapia é a alternativa mais comum e eficaz para diversos tipos de tumores. Entretanto, também é considerado um tratamento bastante agressivo ao organismo. O manuseio de medicamentos quimioterápicos (oncológicos/antineoplásicos) exige atenção desde a fabricação até a dispensação ao paciente.
Isso é necessário devido à nocividade das substâncias utilizadas, que agem como inibidores de crescimento e disseminação de células cancerosas. Por exemplo, a presença de bactérias mutagênicas em alguns medicamentos quimioterápicos.
Apesar das quantidades mínimas de agentes nocivos na sua composição, em longo prazo, a toxicidade desses medicamentos é capaz de causar reações leves, moderadas ou graves. Sobretudo se houver exposição sem as condições recomendadas de proteção e segurança.
Não é à toa que os efeitos colaterais nos pacientes são marcantes, e por isso exigem cuidados especiais com a saúde durante o período do tratamento.
De acordo com a Sociedade Americana de Farmacêuticos do Sistema de Saúde (ASHP), um medicamento é considerado perigoso se apresenta uma ou mais das seguintes características:
- carcinogenicidade: quando uma substância ou agente é capaz de induzir um carcinoma;
- teratogenicidade: quando um fármaco possui capacidade de causar anormalidades fetais;
- genotoxicidade: capacidade de alguns agentes químicos de danificar a informação genética de uma célula, causando mutações;
- toxicidade de órgãos a baixas doses;
- toxicidade reprodutiva.
Riscos de exposição: importância da segurança no manuseio
Dentro do ambiente hospitalar, quaisquer atividades relacionadas à oncologia exigem máxima atenção. Assim, a gestão deve ter como premissa a análise de criticidade, prevendo os riscos potenciais dos processos. Especialmente aqueles onde há contato com medicamentos quimioterápicos.
Primeiramente, o risco de exposição dos profissionais de saúde à medicamentos perigosos inicia tão logo essas substâncias chegam à instituição. E o processo só se encerra com o descarte adequado dos resíduos.
Além disso, o manuseio de medicamentos dessa ordem exige o preparo da substância e a administração ao paciente. Seja por via intravenosa, subcutânea, tópica ou oral. Ao passo que farmacêuticos e enfermeiros são os que lidam extensivamente com esses agentes químicos.
No entanto, exposição a medicamentos perigosos também pode ocorrer a outros membros da equipe. E, ainda, fora dos ambientes de assistência médica.
Todos aqueles que são responsáveis pelo recebimento, inspeção e transporte de medicamentos quimioterápicos estão expostos à contaminação. Por isso, é importante que todos tenham ciência do risco e pratiquem o manuseio de medicamentos seguro.
Para isso é fundamental a aplicação das técnicas e procedimentos indicados na legislação. Isso é necessário mesmo que o risco potencial seja mínimo.
Diferença entre medicamentos quimioterápicos e radioterápicos
Enquanto a quimioterapia é feita através da administração de medicamentos, a radioterapia consiste na emissão de radiação ionizante. Essa radiação é lançada no local onde estão concentradas as células cancerígenas, em doses calculadas conforme o grau da doença.
Geralmente, os tratamentos são complementares. E a radioterapia costuma ser utilizada no pré-operatório para diminuir o tamanho do tumor antes da retirada.
Desse modo, a radioterapia é menos agressiva para o paciente e significa menor risco para o profissional de saúde.
Manuseio de medicamentos quimioterápicos: políticas e diretrizes
Internacionalmente, os padrões de segurança têm sido cada vez mais atualizados, gerando práticas mais seguras e adequadas ao manuseio de medicamentos quimioterápicos.
Por exemplo, a Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) descreve na versão mais recentes dos Padrões de Segurança para Administração de Quimioterapia uma série de requisitos de educação e preparação para aqueles que solicitam ou administram um tratamento de quimioterapia.
Enquanto a Oncology Nursing Society (ONS) também busca promover a excelência dos profissionais da área. Sobretudo através de diretrizes sobre práticas e procedimentos relacionados aos medicamentos oncológicos.
Já no Brasil, a Resolução nº 640/17 do Conselho Federal de Farmácia (CFF) determina que o farmacêutico especializado em oncologia é o profissional indicado para atuar no preparo de antineoplásicos.
Contudo, profissionais de enfermagem fazem parte das equipes multidisciplinares destinadas ao setor de oncologia, atuando em contato direto com pacientes e medicamentos quimioterápicos. Nesse sentido, a RDC 220/04 (Anvisa) e a NR 32 (Ministério do Trabalho) são legislações que estabelecem diretrizes de segurança para tais atividades.
No entanto, mesmo políticas e diretrizes de boas práticas no manuseio de medicamentos considerados nocivos, ainda existe resistência por parte de alguns profissionais. Tal prática ocorre entre uma minoria, que não vê necessidade do uso de EPIs, que são requisitos mínimos de segurança.
Embora a questão do uso de Equipamentos de Proteção Individual seja de extrema relevância, a segurança no manuseio de medicamentos também se aplica ao ambiente.
Conforme as RDCs 50/2002, 67/2007 e 220/2004, as instituições devem possuir uma estrutura adequada à manipulação de medicamentos quimioterápicos. Essa estrutura deve apresentar:
- área exclusiva para atividades administrativas;
- local para lavagem dos utensílios e materiais de embalagem;
- área de quarentena e rotulagem (conferências, checagem do produto manipulado e inspeção);
- área de dispensação;
- local para armazenagem exclusiva de medicamentos oncológicos;
- espaço destinado à paramentação (antecâmara), com lavatório para higienização das mãos;
- vestiários;
- local para armazenagem temporária de resíduos;
- sala exclusiva para preparação de medicamentos quimioterápicos, com área mínima de 5m² por cabine de segurança biológica;
- cabine de Segurança Biológica (CSB) Classe II B2, instalada conforme as orientações da RDC 50/2002.
Gerenciamento de medicamentos quimioterápicos
Alguns medicamentos quimioterápicos fazem parte do grupo dos termolábeis. Assim, eles necessitam de cuidados no transporte e armazenagem específicos, que garantam a estabilidade físico-química.
Para isso, são necessários recipientes isotérmicos e áreas de armazenagem exclusivas. O que exige da instituição de saúde um bom gerenciamento dos processos que envolvem a Terapia Antineoplásica. Especialmente em relação à gestão da farmácia hospitalar.
Isso inclui o investimento em sistemas e soluções tecnológicas. Como por exemplo, sensores de temperatura e umidade nos locais destinados ao manuseio de medicamentos quimioterápicos.