Publicado em 2 novembro 2021 | Atualizado em 19 setembro 2021

Um dos principais vilões da segurança dos pacientes são as infecções hospitalares. E no processo para se evitar esse tipo de ocorrência, o farmacêutico desempenha um papel fundamental.

No Brasil, estima-se que em 14% das internações em hospitais ocorra algum tipo de infecção hospitalar. O número divulgado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) é altíssimo e ações são realizadas para reduzir esse índice.

Por sua vez, a Organização Municipal de Saúde aponta que 234 milhões de pacientes passam por algum procedimento cirúrgico a cada ano. Desse total, sete milhões sofrem complicações pós-operatórias decorrentes de infecções hospitalares, e um milhão morre por conta disso.

Nesse processo, diversos atores estão envolvidos para garantir a segurança do paciente, inclusive os farmacêuticos.

Estrutura da farmácia hospitalar

Quando se fala em infecções hospitalares, se pensa principalmente em enfermarias, centros cirúrgicos e UTIs como locais responsáveis pela ocorrência de tais problemas. Porém, outras áreas também desempenham um papel fundamental no processo de combate.

Entre eles está a farmácia hospitalar. Essa unidade técnico administrativa desempenha um serviço de apoio ao hospital e é coordenada obrigatoriamente por um farmacêutico. Tem também um papel essencial no tratamento de pacientes, tal qual os exames de imagem ou laboratórios clínicos.

Sua principal função é promover o uso racional dos medicamentos e contribuir para que problemas comuns no hospital possam ser barrados. Nesse sentido, é papel do farmacêutico responsável pela farmácia hospitalar atuar nos seguintes fundamentos:

  • Integrar a Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH)
  • Subsidiar as decisões técnicas relacionadas ao controle de antimicrobianos, germicidas e saneantes
  • Atuar na aquisição, conservação e controle de medicamentos
  • Manipular e/ou produzir medicamentos e germicidas
  • Estabelecer um sistema de distribuição de medicamento isento de falhas
  • Implantar sistemas que otimizem a prescrição e controle de medicamentos

Combate às infecções hospitalares

A farmácia hospitalar também tem seu papel no combate às infecções hospitalares. Afinal de contas, o conhecimento técnico do farmacêutico é de fundamental importância na prevenção à entrada de vírus e bactérias no corpo humano

Nesse sentido, é vital sua participação na Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), auxiliando na elaboração de protocolos e tratamentos antimicrobianos. Deve ainda fornecer informações úteis para uma política de uso racional de antimicrobianos, a fim de se evitá-las.

Importante lembrar que a escolha pelos germicidas que serão utilizados no hospital seguem o mesmo processo de seleção de medicamentos. Dessa forma, o profissional poderá orientar a direção do hospital e a comissão do CCIH sobre quais produtos devem ser adquiridos e quais são mais efetivos.

Além disso, a participação do farmacêutico com combate às infecções do ambiente hospitalar exige algumas ações, tais como:

  • Auxiliar no monitoramento dos níveis de sensibilidade, existência de microorganismos e investigar surtos
  • Elaborar normas e rotinas de desinfecção, limpeza, assepsia e esterilização
  • Contribuir com estudos para uso de antimicrobianos
  • Monitorar ações de controle de vetores e da qualidade da água utilizada
  • Compartilhar conhecimento relativos à sua área de atuação com demais membros do CCIH

O que são infecções hospitalares?

As infecções hospitalares são um subconjunto de doenças infecciosas adquiridas em instalações de cuidados de saúde. Para ser considerada hospitalar, a infecção não pode estar presente na admissão do paciente. Em vez disso, deve se desenvolver pelo menos 48 horas após a admissão. Elas podem causar problemas sérios, como sepse e até morte.

Frequentemente, as infecções são causadas por patógenos multirresistentes adquiridos por meio de procedimentos invasivos, uso excessivo ou impróprio de antibióticos e não cumprimento dos procedimentos de controle e prevenção.

Na verdade, muitas delas podem ser prevenidas por meio de orientações emitidas por institutos nacionais de saúde pública, como a Vigilância Sanitária e por meio da CCIH.

Qual é o tipo mais comum de infecção hospitalar?

Embora várias bactérias, vírus e fungos possam causar infecções hospitalares, a mais comum é a bactéria Staphylococcus aureus. Outros patógenos comuns como Escherichia coli, Enterococci e Candida são culpadas comuns e todos podem ser encontrados normalmente na pele e nas membranas mucosas.

Cepas resistentes a antibióticos, como Staphylococcus aureus resistente à meticilina, podem ser especialmente perigosas e difíceis de tratar.

Em geral, as infecções hospitalares são contraídas da seguinte forma:

Cateteres urinários

Um cateter urinário é um tubo inserido na bexiga para coletar a urina em um sistema de coleta fechado. Os cateteres urinários podem ajudar os pacientes que têm dificuldade em controlar ou esvaziar a bexiga.

A disseminação de patógenos através do períneo de um indivíduo ou de um cateter urinário contaminado pode causar infecções do trato urinário, que são mais comuns. Os sintomas incluem dor ao urinar, dor no flanco e febre.

Procedimentos cirúrgicos

A segunda forma de contrair mais comum é no centro cirúrgico, que pode se desenvolver após a cirurgia. A duração da operação, a técnica cirúrgica e a esterilidade da sala de operação são fatores que podem afetar a incidência.

As infecções do centro cirúrgico são causadas por patógenos já prevalentes na pele ou por organismos excretados de membros da equipe da sala de cirurgia e frequentemente envolvem a pele, órgãos ou materiais implantados. Os sintomas podem incluir vermelhidão da pele, sensibilidade e drenagem de locais cirúrgicos.

Cateteres venosos centrais

Um cateter venoso central é um tubo colocado em uma grande veia no pescoço, braço, tórax ou virilha e pode permanecer no local indefinidamente. Cateteres venosos centrais podem ser usados ​​para administrar terapias intravenosas, como nutrição parenteral total (NPT), que fornece nutrientes e fluidos aos pacientes.

As infecções da corrente sanguínea podem resultar de patógenos que podem penetrar na pele durante a inserção de hubs de linhas centrais. Esta é a terceira forma mais comum de infecção hospitalar e apresenta a maior taxa de mortalidade. Os sintomas de infecção podem incluir vermelhidão da pele, sensibilidade e drenagem nos locais de inserção.

Ventilação mecânica

A pneumonia associada ao ventilador é uma infecção respiratória causada pela respiração da flora orofaríngea contaminada durante a ventilação mecânica (respiração assistida por máquina).

Juntamente com as infecções da corrente sanguínea da linha central, é a terceira ocorrência mais comum. A pneumonia de início precoce ocorre nos primeiros quatro dias da admissão e é comumente causada por patógenos como Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae.

A pneumonia de início tardio é frequentemente causada por bactérias multirresistentes como Pseudomonas aeruginosa, e Klebsiellae Acinetobacter. Os sinais e sintomas incluem febre, aumento da produção de muco, aumento da contagem de leucócitos e achados anormais na radiografia de tórax.

Falta de higienização

A falta da correta higienização das mãos também está entre os principais responsáveis pela infecção hospitalar e transmissão de doenças. Nesse sentido, é papel do profissional fazer a correta assepsia das mãos a cada novo procedimento. O processo deve ser ainda mais rigoroso antes de cirurgias, intubação, e passagem de cateter.

Como evitar as infecções hospitalares?

A prevenção de infecções hospitalares começa com a implementação de protocolos de controle em estabelecimentos de saúde para reduzir a transmissão exógena e endógena. Nesse sentido, é papel da CCIH a criação de tais protocolos, seguindo sempre as legislações existentes.

A transmissão exógena ocorre devido a interações pessoa a pessoa e por meio de contaminação ambiental cruzada. A higienização frequente das mãos é a medida preventiva mais importante para limitar a disseminação de patógenos.

Outras medidas incluem o cumprimento das precauções de isolamento e o uso adequado de equipamentos de proteção individual. Além disso, os profissionais de saúde devem evitar o uso desnecessário de dispositivos internos, como cateteres, e removê-los assim que for aconselhável.

Finalmente, a redução da transmissão ambiental envolve a prática de técnicas assépticas e estéreis adequadas durante a inserção e manutenção dos dispositivos. Por exemplo, a desinfecção de rotina de superfícies, equipamentos de pacientes e dispositivos médicos — bem como o gerenciamento adequado de resíduos — são medidas importantes na prevenção da transmissão exógena de infecções hospitalares.

Por sua vez, a transmissão endógena vem do uso excessivo e impróprio de antibióticos de amplo espectro. Seu uso descontrolado pode causar o fortalecimento da bactéria, que se torna mais resistente aos medicamentos.

Nesse sentido, o farmacêutico desempenha um papel de fundamental importância para determinar o agente, dose e duração corretos e necessários para minimizar o crescimento de patógenos resistentes a antibióticos.

Os cuidados com o paciente

Fica claro que no ambiente hospitalar, os cuidados com as infecções devem fazer parte da rotina para se evitar a contaminação do paciente. Para isso, é necessário seguir protocolos estabelecidos pelo CCIH para melhoria da qualidade e segurança.

Além de integrar tais comissões, o farmacêutico também deve estar atento às medicações prescritas e evitar seu uso abusivo, que podem inclusive fortalecer bactérias e outros patógenos responsáveis pelas infecções hospitalares.

Para isso, deve também redobrar o controle de dispensação de medicamentos junto à farmácia hospitalar, mantendo controle do que está sendo administrado a cada paciente. Tal controle também permite uma investigação futura em caso de infecção, ajudando a compreender qual foi a via de entrada das bactérias.

Quer saber mais sobre o tema? Então, não deixe de ler o artigo: Controle de infecção hospitalar: um desafio permanente.

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Redação Nexxto

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