Publicado em 2 fevereiro 2021 | Atualizado em 1 fevereiro 2021

As questões envolvendo a vacinação e o processo em torno da composição e do desenvolvimento da vacina contra a COVID-19 têm sido discutidas mundialmente.

Sobretudo por conta da rapidez com que os imunizantes vêm sendo desenvolvidos, há muita especulação em torno das fórmulas. Uma delas é quanto à segurança das vacinas e sua capacidade de criar a imunidade necessária no combate ao novo coronavírus.

Atualmente, as principais vacinas em desenvolvimento para combate à COVID-19, incluindo as que já estão sendo fabricadas, utilizam a tecnologia de RNA. Contudo, existem muitas pesquisas em torno de imunizantes baseados em DNA, para esta e outras doenças, incluindo o câncer.

Embora tenham o mesmo objetivo, cada uma utiliza uma abordagem diferente a partir de moléculas do próprio vírus. E ambas criam as condições esperadas para que o organismo apresente uma resposta imune satisfatória.

Por exemplo, a vacina da Pfizer/BioNTech, que já vem sendo aplicada em países da Europa e nos Estados Unidos, é baseada em RNA (também chamada mRNA ou RNA mensageiro). O imunizante desenvolvido pela Moderna segue a mesma linha tecnológica.

Enquanto isso, a Oxford/AstraZeneca utiliza tecnologia baseada em vetor de adenovírus e a Coronavac é desenvolvida com a técnica de vírus inativado. Esses dois imunizantes, que utilizam processos mais antigos, já foram aprovados pela Anvisa para uso emergencial no Brasil.

No entanto, técnicas mais recentes baseadas em DNA e RNA surgem como um grande avanço da ciência para o desenvolvimento de imunizantes. Especialmente porque não é necessário que o próprio vírus seja utilizado, já que se trata de uma tecnologia sintética.

Vejamos a seguir as principais diferenças entre cada um dos tipos e de que forma eles atuam para proteger o corpo humano da COVID-19.

O que é a vacina baseada em RNA e quais os benefícios

As vacinas são a melhor saída para combater pandemias e, atualmente, a forma mais eficaz de realizar o manejo da COVID-19 a longo prazo. Isso porque esse tipo de medicamento imunobiológico atua expondo o organismo a um antígeno – que nesse caso se trata de um vírus.

Desse modo, o sistema imunológico é “provocado” a produzir os anticorpos necessários para combater uma possível infecção. Assim, caso o organismo seja novamente exposto ao antígeno (que seria o vírus ativo), o corpo já terá criado uma espécie de memória, ativando novamente os anticorpos.

Portanto, a ideia é que a resposta imunológica seja forte o suficiente para que o indivíduo não adoeça. E se adoecer, que os sintomas sejam mais fracos e não causem maiores danos e consequências.

Entretanto, a abordagem utilizada nas vacinas de RNA é diferente daquelas mais conhecidas, que utilizam vírus atenuados/inativos ou vetores. Elas se aproveitam do processo natural das células para sintetizar proteínas.

Podemos dizer que uma vacina RNA consiste numa fita de mRNA, responsável por codificar o antígeno da doença. No caso da COVID-19, esse antígeno se trata do coronavírus Sars-Cov-2.

Assim, quando a fita de mRNA da vacina adentra as células do corpo, estas se utilizam da informação genética para produzir o antígeno. Dessa forma, ele é exposto na superfície da célula, sendo reconhecido pelo sistema imunológico.

Método de produção e vantagens da vacina de RNA

A produção das vacinas baseadas em RNA é feita a partir de uma espécie de molde de DNA, que pode utilizar materiais que estejam disponíveis prontamente, facilitando o processo. Desse modo, é possível obter um processo mais rápido e barato em relação à vacina convencional.

Essa tecnologia é considerada relativamente nova – algumas das empresas desenvolvedoras estão há pouco mais de 10 anos no mercado –, e permite que o imunizante seja administrado de várias formas. Alguns métodos que podem ser apresentados são:

  • injeções de seringa com ou sem agulha na pele;
  • injeção no sangue ou diretamente em órgãos;
  • injeção intramuscular;
  • via spray nasal.

Porém, no caso das vacinas para COVID-19 que utilizam a técnica de RNA, vale ressaltar que a aplicação é feita no músculo do braço.

Contudo, uma das grandes vantagens desse tipo de imunizante é a variedade de formas de administração. Sobretudo pelo fato de que alguns deles podem facilitar significativamente não só a fabricação, mas todo o processo de armazenamento e distribuição. Afinal, este é considerado atualmente um dos principais desafios de logística no setor de saúde.

Vacina de DNA: como é produzida e de que forma atua no organismo

As vacinas produzidas através de DNA, também chamada de vacina gênica, são bastante semelhantes àquelas que utilizam a tecnologia de RNA. Da mesma forma, também não se baseiam no vírus em si, mas na informação genética dele.

Dessa maneira, a informação genética codifica as proteínas do organismo patogênico e se utiliza do funcionamento do próprio hospedeiro. Tais proteínas são os chamados antígenos, que são responsáveis por ativar o sistema imunológico e produzir anticorpos.

A partir daí, o mecanismo de ação passa a ser o mesmo de qualquer outra vacina: ao entrar em contato com o vírus, o organismo não adoecerá ou apresentará uma reação mais leve.

Apesar de nenhuma das vacinas desenvolvidas para combater a COVID-19 serem baseadas em DNA, essa é uma técnica bastante importante para a população mundial. Isso porque os estudos que vêm sendo realizados já apontam um potencial terapêutico contra o câncer.

Vantagens e desvantagens da vacina de DNA

Quando comparada aos métodos mais clássicos, a vacina de DNA apresenta algumas vantagens, especialmente quanto à rapidez na produção, a maior estabilidade térmica em temperatura ambiente e fácil adaptação a novos patógenos.

Já com relação às desvantagens, talvez a principal delas seja a baixa imunogenicidade, ou seja, uma menor capacidade de gerar resposta imune no organismo. Essa observação foi feita em testes com humanos e animais de grande porte.

Porém, testes em roedores apresentaram melhores resultados, o que significa que existe um potencial de eficácia real para esse tipo de vacina.

Qual a diferença entre as vacinas RNA e DNA?

Apesar de funcionarem da mesma forma, as vacinas de DNA e RNA apresentam algumas diferenças entre si. Na vacina de DNA, a informação genética do patógeno é transmitida para uma outra molécula, chamada de RNA mensageiro ou mRNA.

Uma outra diferença básica entre elas é que, no caso da vacina de DNA, a entrega da mensagem é feita através de um pequeno pulso elétrico, praticamente “empurrando” a informação para a célula.

Nesse sentido, quando já existe uma vacina diretamente baseada em mRNA, isso significa que um passo a mais já foi dado. Portanto, pode-se dizer que, basicamente, a técnica de RNA é um aperfeiçoamento do método utilizado nas vacinas de DNA.

Conservação: por que alguns imunizantes exigem condições especiais?

A questão das vacinas envolve uma logística bastante específica, já que os imunobiológicos são medicamentos termolábeis, e costumam depender da cadeia do frio. Por isso, todo o processo desde a fabricação até sua dispensação precisa ser feito em condições térmicas adequadas.

Entre as vacinas de RNA desenvolvidas para COVID-19, a da Pfizer BioNTech se destaca pelo nível de exigência para conservação, uma vez que esse imunizante precisa ser mantido a -70ºC. Enquanto que a vacina da Moderna exige uma conservação a -20ºC.

Tal necessidade se torna um desafio para muitos países, incluindo o Brasil. Aqui, a Rede de Frio, até então, estava preparada para receber e armazenar vacinas numa variante de temperatura de 2ºC a 8ºC. Essa é uma graduação utilizada por imunizantes compostos por vírus inativado ou atenuado, que são os mais comuns.

Contudo, a nova geração das vacinas vêm para transformar o cenário, inclusive no que se refere à estrutura utilizada para o fornecimento. Em muitas localidades brasileiras, prefeitos e governadores precisaram agir rapidamente para adquirir geladeiras de vacina com capacidade para receber esses imunizantes.

Numa verdadeira corrida contra o tempo para adaptar a Rede de Frio, muitos esforços vêm sendo empregados para garantir uma estratégia eficiente de vacinação em todo território nacional.

Agora que você já sabe mais sobre as vacinas RNA e DNA, aproveite e leia também: Desafios do plano de logística para distribuição da vacina contra COVID-19.

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Lucas Almeida

Cofundador e CRO da Nexxto

Trabalho todos os dias para ajudar o setor de saúde a ser mais digital e eficiente, possibilitando que mais pessoas no Brasil tenham acesso a serviços com qualidade e segurança.