Entre os tantos desafios enfrentados pela gestão em saúde, um dos mais críticos é o gerenciamento adequado do fluxo de pacientes dentro do hospital. Isso porque a falta de eficiência nesse processo tende a gerar efeitos negativos que se refletem na qualidade do atendimento e cuidado com o paciente dentro da instituição.
Principalmente nas grandes cidades e em hospitais de referência, onde a demanda costuma ser maior do que a oferta de leitos, otimizar esse fluxo exige ações bem aplicadas, como num jogo de xadrez: cada peça deve ser movida com precisão.
Para isso, a instituição deve adotar estratégias que envolvam as diferentes equipes, até que se encontre o melhor ajuste. Isso porque o movimento de um paciente no hospital iniciar com desde a entrada no pronto-socorro e só se encerra com a alta.
No início dos anos 2000, organizações voltadas à melhoria da qualidade hospitalar, como o Institute for Healthcare Improvement (IHI) já defendiam que melhorar o fluxo de pacientes poderia refletir na melhora da segurança e da qualidade do atendimento ao paciente.
Nesse sentido, seja dentro ou fora do hospital, otimizar esse fluxo tende a reduzir as flutuações na taxas de ocupação. Assim, evita-se ainda que haja picos de superlotação, baixa transferência e atrasos no atendimento. Inclusive nos horários de visitas aos pacientes, prevenindo um acúmulo maior de pessoas no ambiente hospitalar.
Dados sobre o impacto do fluxo mal gerenciado
Os reflexos negativos de um processo que não é gerenciado adequadamente confirmam o impacto do fluxo de pacientes num hospital. Sobretudo a superlotação na emergência, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e mesmo em outras alas, gera resultados adversos significativos.
Conforme um estudo publicado na biblioteca do National Institutes of Health (NIH), para cada paciente extra com insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio ou pneumonia atribuído a uma enfermeira, as chances de readmissão na internação aumentam de 6% e 9%.
Outra pesquisa publicada pelo jornal Critical Care Medicine descobriu que, ao receber alta da UTI em decorrência de superlotação, o paciente corre um risco mais alto de readmissão em pouco tempo.
Além disso, a taxa de mortalidade também aumenta quando a há uma diminuição da proporção de enfermeiras cirúrgicas por paciente. isso também ocorre com pacientes mantidos por mais tempo no Pronto Socorro á espera da liberação de leitos de internação.
Ou seja, se o fluxo de pacientes tiver entraves, as equipes de enfermagem, laboratórios, radiologia, entre outras, não conseguirão atender o acúmulo da demanda. Além disso, a equipe médica também terá menos tempo para atender cada paciente individualmente, o que pode comprometer o resultado do tratamento.
Portanto, adotar uma série estratégias para otimizar esse fluxo é imprescindível, e você pode conferir a seguir cinco ações que incidem sobre a melhoria desse processo. Confira!
Estratégias para otimização do fluxo de pacientes
Gerenciar o fluxo de pacientes e prevenir uma ocupação disforme, que possa gerar superlotação, é um grande desafio para a gestão em saúde. Principalmente porque é preciso pensar para além da unidade e considerando toda a organização.
Todavia, implementar estratégias para otimizar esse processo requer o entendimento de conceitos básicos que auxiliarão a definir quais ações serão mais efetivas, de acordo com situações específicas. Como benefícios, a instituição e o paciente terão:
- diminuição do tempo de espera para atendimento;
- melhoria na atenção e cuidado com o paciente;
- redução de custos operacionais;
- aumento da produtividade;
- equipes mais satisfeitas com o rendimento do trabalho.
Desse modo, é importante pensar em ações que incluam o trabalho em equipe, a liderança e, claro, o uso de tecnologias. Afinal, é o conjunto de estratégias que possibilitará a melhoria do processo em todas as etapas.
Veja a seguir 5 estratégias que podem ser adotadas para otimizar o fluxo de pacientes dentro do hospital:
1. Promover a comunicação e integração de equipes e setores
A primeira estratégia para otimizar o fluxo de pacientes é envolver todas as equipes dos diferentes setores. Isso porque ao abordar o processo em todo o hospital permite que o problema seja identificado e comunicado de maneira mais ampla e eficiente.
Como todas as alas do hospital estão interligadas, o gargalo pode ocorrer em diferentes momentos, refletindo na etapa seguinte. Ou seja, se o fluxo de pacientes não ocorrer adequadamente no pronto socorro, haverá um “efeito dominó” que tende a resultar em problemas até mesmo no procedimento de alta.
Por esse motivo, todos os funcionários, equipe médica e gestores precisam compreender o objetivo de otimizar esse processo e tudo que é necessário para o cumprimento das metas. Nesse sentido, criar uma comissão hospitalar é um passo fundamental para a melhoria dos processos internos.
A partir daí, poderá ser designada uma equipe de fluxo, que inclua um membro de cada setor do hospital. Essa estratégia permite a identificação dos problemas em cada ala para a definição das metas e aplicação das mudanças.
2. Treinar o gerenciamento de tempo
O tempo é crucial para o fluxo de pacientes. Portanto, treinar as equipes com técnicas de gerenciamento de tempo é uma das estratégias para otimizar esse processo. Dessa forma, o planejamento das ações será melhor desenvolvido, resultando em maior produtividade e eficiência.
Desde recepcionistas até os médicos, todos os funcionários podem se beneficiar ao aprimorar suas habilidades de gerenciar o tempo na execução das tarefas. Também é importante que as lideranças do hospital compreendam a importância da tecnologia e incentivem o uso de ferramentas de automatização.
Para isso, no entanto, novamente o treinamento é fundamental, assim como o suporte às equipes sobre como utilizar as novas tecnologias para que sejam eficazes no dia a dia do trabalho.
3. Reforçar serviços não-clínicos
As equipes de manutenção, limpeza, transporte, administração, entre outros serviços que não incluam o tratamento clínico, também são essenciais para o fluxo de pacientes. Por isso, esses serviços devem ser reforçados para que suas atividades impactem positivamente no processo.
Uma das melhores formas de promover essa melhoria, além de aumentar as equipes, é investir em treinamento e educação contínua sobre o papel de cada profissional dentro da instituição. Estimular a confiança dos funcionários e mantê-los engajados, a partir da tomada de consciência da sua importância para a otimização desse fluxo, aumenta a motivação e torna o trabalho mais eficiente.
4. Investir em análise de dados
Entre as principais estratégias para otimizar o fluxo de pacientes está a análise da dados. No entanto, para isso é fundamental adotar tecnologias como o Registro Eletrônico em Saúde, chamado de EHR.
Essa ferramenta possibilidade a coleta e o armazenamento de dados por meio de dispositivos eletrônicos. A partir da análise das informações, os gestores podem tomar decisões mais assertivas e direcionadas, permitindo a melhoria dos processos internos. Principalmente quanto à movimentação do paciente no hospital.
Além de melhorar o atendimento, também é possível aumentar a eficiência geral das equipes. Outro aspecto importante da análise de dados é demonstrar aos profissionais sobre o reflexo do seu trabalho no ambiente hospitalar e qualidade dos serviços.
5. Adotar tecnologias de rastreabilidade
A rastreabilidade dentro das instituições de saúde pode facilitar uma série de processos. Contudo, o rastreamento em tempo real, conhecido como RTLS, é ainda mais importante para o fluxo de pacientes.
Através dessa tecnologia, o hospital acompanha os pacientes desde a entrada na emergência até o momento da alta. Desse modo, é possível identificar gargalos e ineficiências no decorrer do processo. Com o RTLS é possível saber por quanto tempo um paciente espera em cada etapa e setor.
Por exemplo, é possível identificar, através dos dados de localização, se houve um período de espera maior que o normal para o atendimento na radiologia. Ou ainda, identificar os leitos disponíveis em cada ala, para a transferência do paciente.
Sem contar que o sistema pode ser integrado ao EHR e ao ERP da instituição, permitindo uma abordagem mais ágil durante todo o atendimento.
Como a IoT pode ajudar o hospital na melhoria desse processo?
Muito se tem falado sobre os impactos da tecnologia no setor de saúde. O hospital conectado é uma forte tendência e, em alguns lugares, já se apresenta como realidade. Contudo, essa inovação só é possível através do uso massivo de recursos baseados em Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA).
E são essas tecnologias que mais impactam na melhoria do fluxo de pacientes. Através de ferramentas como o RTLS, o Prontuário Eletrônico e o Beira Leito, por exemplo, todas as etapas do processo se tornam mais eficientes.
Isso ocorre, sobretudo, porque cada uma dessas ferramentas agiliza o andamento do trabalho. E quando se fala em otimização de fluxo, se fala diretamente de tempo. Portanto, investir em inovação e projetos para implementação da IoT faz com que o hospital se posicione mais à frente na busca por qualidade e segurança.
Como resultado, a instituição desenvolve um processo eficiente, capaz de entregar melhores resultados e experiências mais positivas ao paciente. Além disso, se promove a satisfação das equipes que veem um resultado de trabalho mais fluido e ainda há uma redução dos custos operacionais, que são benéficos para a instituição, de modo geral.
Depois de conhecer as estratégias para otimizar o fluxo de pacientes, leia também: Glosa médica e hospitalar: qual impacto financeiro e como evitá-las.